16 Mai 2014 0:46
Desta vez não temmos nenhuma crise familiar ou observação mordaz sobre a sociedade inglesa. O realizador britânico Mike Leigh surpreendeu com um novo filme de época, um género que o realizador apenas tinha assumido em dois dos 12 filmes que realizou ("Vera Drake" e "Topsy Turvy").
"Mr. Turner" é um biopic centrado nos derradeiros 25 anos da vida de J.M.W. Turner (1775-1851), um pintor romântico inglês, considerado um dos precursores da modernidade na pintura, em função dos seus estudos sobre cor e luz.
Turner é interpretado pelo ator Timothy Spall – que nasceu para desempenhar este papel – como sendo um indivíduo sensível e grotesto, uma espécie de sociopata com dificuldade em estabelecer ligação com as pessoas com que não se relaciona.
A personagem é definida através das suas ligações mais próximas, com o pai que o acompanhou e apoiou até morrer, com a governanta que cuidava da casa e sobretudo com uma mulher de uma aldeia piscatória onde Turner procurava alojamento quando viajava para pintar, e que se tornou na sua derradeira companhia após a morte do pai.
O filme valoriza a luminosidade da obra de Turner, graças ao trabalho do diretor de fotografia Dick Pope, que definiu uma paleta a partir das telas do pintor e procurou a luz certa em diversos cenários naturais. Devido a limitações orçamentais, o biopic não reflete as viagens que Turner fez na Europa, nomeadamente em Veneza, mas a opção por um roteiro doméstico enriquece uma perspetiva da vivedncia familiar do pintor.
"Mr Turner" é um hino à luminosidade em cinema, combinando bem os elementos biográficos com o valor artístico da obra de Willliam Turner. Mike Leigh regressa a Cannes com uma obra cinematograficamente perfeita com a qual pode ganhar uma segunda Palma de Ouro.