19 Mai 2015 1:16
É bem verdade que o cinema francês contém uma tradição social que persiste, para além das épocas e das modas. A competir para a Palma de Ouro, "La Loi du Marché", de Stéphane Brizé, constitui um bom exemplo disso mesmo, centrando-se na odisseia laboral, familiar e emocional de um homem que tenta escapar a uma situação de prolongado desemprego.
Thierry, interpretado pelo magnífico Vincent Lindon, é esse homem que, depois de ter passado os 50 anos, se descobre despojado dos resultados de uma vida de trabalho. Perante a necessidade de gerir o seu espaço familiar, acaba por aceitar um emprego como vigilante de uma grande superfície — a pouco e pouco, as suas tarefas (em particular envolvendo a punição de empregados que tentam desviar dinheiro das caixas) vão desgastando as suas derradeiras energias…
"La Loi du Marché" — ou seja, à letra, "A Lei do Mercado" — surge, como é óbvio, como um reflexo da conjuntura de crise económica dos últimos anos. Mas não é um filme de generalizações fáceis. Bem pelo contrário: Brizé aplica um tom de reportagem "simulada" para mergulhar naquele destino individual e, em particular, denunciar a carga de desumanidades a que está exposto.
Lindon consegue a proeza de compor um Thierry que sentimos sempre próximo de nós, mesmo quando o seu comportamento se apresenta enigmático, indecifrável. Dizer que ele é um dos principais candidatos ao prémio de interpretação masculina não será um exagero — afinal de contas, Lindon pode simbolizar também uma longa tradição de representação à la française.