29 Fev 2016 23:08
Foram os prémios de celebração da diversidade. Numa atitude em que o mais básico bom senso se combinou com os requintes do humor, a Academia de Hollywood geriu a cerimónia dos seus 88ºs Oscars como um espelho crítico das muitas polémicas — as interessantes e as frívolas — que começaram na questão dos afro-americanos nas nomeações.
Acima de tudo, a apresentação de Chris Rock conseguiu uma conjugação de dois factores que não parecia fácil: por um lado, não escamoteando o problema, antes assumindo-o como tema nuclear da noite do Dolby Theatre; por outro lado, fazendo ver que, em última instância, aquilo que importa discutir não é a presença de A, B ou C na categoria X ou Y, mas sim a consolidação da igualdade de oportunidades.
Ironicamente ou não, tudo isso serviu de pano de fundo a uma cerimónia que, num inesperado twist final, consagrou um filme eminentemente clássico: na sua encenação de um jornalismo exigente e socialmente responsável, "O Caso Spotlight" emergiu como símbolo de um cinema de sensibilidade liberal e humanista (lembremos a referência modelar de "Os Homens do Presidente", em 1976) que não se dilui numa visão meramente técnica dos filmes.
E, no entanto, esta foi uma cerimónia que deixou algumas pistas curiosas para a (re)avaliação da importância das novas tecnologias na paisagem do cinema directa ou indirectamente ligado a Hollywood. A começar pelo facto, admirável sem dúvida, de haver um técnico de imagem que ganhou o seu terceiro Oscar em três anos consecutivos: o mexicano Emmanuel Lubezki arrebatou o Oscar de melhor fotografia com "The Revenant: O Renascido", depois de triunfar na mesma categoria com "Gravidade" e "Birdman", respectivamente em 2014 e 2015 [video: a fotografia em "The Revenant"].
Nesta perspectiva, vale a pena sublinhar a circunstância, insólita sem dúvida, de "Star Wars: O Despertar da Força" ter sido um dos ausentes do palmarés final: cinco nomeações e nenhum Oscar. Dir-se-ia que o reconhecimento da vanguarda tecnológica se fixou, quase por inteiro, em "Mad Max: Estrada da Fúria" que com seis estatuetas douradas nas chamadas categorias técnicas foi, em termos quantitativos, o vencedor da noite.
Enfim, registemos a triunfante coabitação destes quatro nomes: Leonardo DiCaprio, Brie Larson, Mark Rylance e Alicia Vikander — os vencedores das quatro categorias de interpretação ficaram como a prova muito real de que a dimensão humana (e humanista!) do cinema não se decompôs. E tanto mais quanto, muito para lá da questão da cor da pele seja de quem for, esta foi uma temporada de notáveis interpretações de actores e actrizes.