2 Set 2016 1:35

O realizador alemão mostrou no festival de Veneza o seu mais recente filme, "Os Belos Dias de Aranjuez", uma reflexão íntima encenada num diálogo escrito sob forma de representação cinematográfica.

Um escritor instala-se no seu espaço criativo, a sala de uma casa do século XIX onde Sarah Bernhardt viveu, na Ilha de França, e imagina o diálogo que vai escrevendo entre um homem e uma mulher que estão sentados à sua frente numa mesa do jardim.

Ambos dialogam sobre a sexualidade, mantendo uma conversa franca que decorre de acordo com regras que foram negociadas e que revela o lado racional do homem e a sensibilidade emocional da mulher.

Wenders acompanha os seus atores enquadrando o diálogo em diversos momentos, sempre no mesmo espaço, com uma fluidez de câmara e uma construção de planos totalmente ajustada ao ritmo da conversa.

O realizador não se liberta verdadeiramente do texto de Peter Handke (esta é a quinta adaptação, incluindo "As Asas do Desejo") e a sua abordagem quase teatral impede que esta reflexão tenha impacto emocional no espectador.

Ainda assim a opção por flmar em 3D é totalmente adequada porque esta é a forma eficaz do realizador transmitir a profundidade visual e sonora deste jardim que é imaginado como um local paradisíaco, sensorial, onde é possível suspender o tempo do quotidiano contemporâneo.

"Os Belos Dias de Aranjuez" é uma ficção reflexiva sobre a escrita e as personagens que se assemelha aos documentários recentes sobre dança ("Pina") e fotografia ("O Sal da Terra"). O cineasta alemão procura que a sua perspetiva cinematográfica enriqueça uma história, uma narrativa, um criador,  sendo um desafio estético e conceptual para quem vê.

 
 

  • cinemaxeditor
  • 2 Set 2016 1:35

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