14 Mar 2017 19:13
A dois meses do início da edição 70 do Festival de Cinema de Cannes, reunímos trinta fortes candidatos a integrar as principais secções do certame francês que terá o realizador e argumentista espanhol Pedro Almodóvar como presidente do júri.
Começamos pelo filme de abertura: "Alien: Covenant", de Ridley Scott, tem estreia mundial na semana em que começa o festival. Demasiada coincidência para não apontarmos o terror espacial do veterano realizador como grande candidato para começar a festa.
Outro filme de que se fala para a primeira sessão de Cannes é "Dunkirk", o novo de Christopher Nolan. O realizador de "Inception" e "Interstellar", famoso também pelo novo olhar sobre a personagem Batman, lança-se no relato da retirada britânica das praias de Dunquerque, no início da Segunda Guerra Mundial.
Há uma terceira via, que também significa a aposta nas grandes produções de Hollywood e nas estrelas que poderá arrastar: "Piratas das Caraíbas: Homens Mortos Não Contam Histórias", com Johnny Depp, Javier Bardem, Orlando Bloom e Geoffrey Rush. Há historia a suportar esta hipótese, pois o quarto filme foi projetado pela primeira vez em Cannes, em 2011.
Os americanos
Depois de "Carol", Todd Haynes dirige Michelle Williams e Julianne Moore
em duas histórias passadas em épocas diferentes. "Wonderstruck" tem
argumento de Brian Selznick, autor de "Hugo".
Outro candidato a um lugar em Cannes é "The Beguiled", a nova versão do
filme sobre um soldado ferido que recebe tratamento numa escola de
raparigas durante a guerra civil norte-americana. Seria a quinta
presença de Sofia Coppola e sucederia a "Bling Ring", que fez parte da
secção Un Certain Regard, em 2013.
Vencedor em 1989 com "Sexo, Mentiras e Vídeo", Steven Soderbergh está a terminar "Logan Lucky", uma comédia que tem as corridas de
automóveis da NASCAR como pano de fundo e um longo elenco onde pontuam
Katherine Waterston, Adam Driver, Daniel Craig, Channing Tatum, Seth
MacFarlane, Katie Holmes e Hilary Swank.
Ainda sem título definitivo, o projeto de Kathryn Bigelow (The Hurt
Locker) sobre os motins raciais em Detroit, nos anos 60, poderá marcar a
estreia da realizadora no festival francês.
A atravessar um período de grande produtividade, Terrence Malick poderá
estar presente pela terceira vez com "Radegung", sobre um objetor de
consciência austríaco que se recusou a combater pelos nazis.
Outro provável do outro lado do atlântico é o thriller noir "Under the Silver Lake", de David Robert Mitchell (de "It Follows") com Andrew Garfield.
Os europeus
Aposta quase certa será a escolha de "Happy End", a mais recente longa-metragem do duplo vencedor da Palma de Ouro, Michael Haneke. Depois da visão sombria da vida numa pequena aldeia em "Laço Branco" e dos dramas da velhice em "Amor", o austríaco lança um olhar sobre a vida de uma família que vive em Calais, perto dos campos de refugiados.
Outro filme que pode estar a caminho de Cannes é "You Were Never Really Here", da escocesa Lynne Ramsay. Com um histórial de cinco presenças no festival, Ramsay regressa às longas metragens seis anos após "Temos de Falar Sobre Kevin" para acompanhar os esforços de um antigo militar que pretende ajudar uma jovem vítima do tráfico sexual.
Vencedor do prémio do júri em 2015 com "A Lagosta", o grego Yorgos Lanthimos poderá repetir a presença com "The Killing of a Sacred Deer" um drama familiar onde dirige Nicole Kidman, Alicia Silverstone e Colin Farrell.
Depois, há a curiosa história por detrás da possível presença de Deniz Gamze Ergüven. Em 2011, foi convidada a apresentar o seu projeto "The Kings" num atelier do festival. Sem financiamento, optou por algo mais intimista e fácil de produzir. Com a também realizadora Alice Winocour desenvolveu "Mustang", sobre um grupo de raparigas turcas obrigadas a enfrentar as realidades de uma sociedade conservadora.
O filme foi um sucesso crítico e mereceu o César para melhor longa metragem e melhor argumento, em 2015. Agora, em 2017, Ergüven pode encerrar o ciclo apresentando o mesmo "The Kings" em Cannes. Halle Berry e Daniel Craig encabeçam a história passada em Los Angeles por altura do julgamento de Rodney King, um afro-descendente espancado pela polícia.
Há também hipóteses de uma terceira presença em Cannes para o dinamarquês Joachim Trier, com o seu novo filme, "Thelma". Definido como um thriller sobrenatural, conta como uma estudante se apaixona e descobre que tem terríveis superpoderes.
Do leste, poderão surgir "Loveless" do russo Andrey Zvyangitsev, sobre os conflitos entre um casal em processo de divórcio, e "Sunset", do húngaro Laszlo Nemés, autor de "Filho de Saul". Uma terceira hipótese poderá vir da Ucrânia com Sergei Loznitsa e "A Gentle Creature".
Os franceses
No campo dos cineastas da casa, há "Redoutable", de Michel Hazanivicius, O vencedor de um Oscar em 2012 por "O Artista" apresenta a historia dos amores (e ódios) de Jean-Luc Godard pela jovem atriz Anne Wiazemsky, com quem viria a casar.
Outra boa aposta reside em "D’après une histoire vraie", de Roman Polanski, mas há dúvidas de que esteja pronto a tempo. Eva Green, Emmanuelle Seigner e Vincent Perez encabeçam o elenco da história de uma escritora que se deixa dominar por uma fã obsessiva.
Ainda entre os franceses, são favoritos a um lugar em Cannes "Les Fantômes d’Ismaël", de Arnaud Desplechin, sobre um cineasta que vê a sua vida andar para trás com o aparecimento de uma antiga amante, "Barbara", biopic de uma famosa cantora pop francesa, com assinatura de Mathieu Amalric, e "Jeanette", de Bruno Dumont, uma comédia musical sobre a infância de Joana de Arc.
Os latino-americanos
As cinematografias latino-americanas poderão estar representadas pela argentina Lucrecia Martel e o seu "Zama", sobre um funcionário da coroa espanhola no século XVIII. Destacado no Paraguai, enquanto espera por uma transferência para Buenos Aires que nunca mais chega, decide juntar-se ao grupo que dá caça um bandido.
Presença habitual em Cannes, o mexicano Carlos Reygadas, vencedor de um prémio do júri e de um galardão de melhor realizador, terá pronto a apresentar "Where Life Begins" onde é também um dos protagonistas. O filme passa-se nos rachos de touros da região de Tlaxcala e é descrito como a história de uma família que luta para equilibrar a modernidade com os remanescentes de um velho mundo.
Os asiáticos
Leão de Ouro em Veneza 2015 com "The Woman Who Left", o filipino Lev Diaz prepara-se para apresentar a mesma história (alguém preso durante 30 anos regressa a casa para se vingar), mas sob o ponto de vista de um protagonista masculino em "When the Waves Are Gone".
"Okja", do sul-coreano Joon-ho Bong, com a jovem Seo-Hyun Ahn ao lado de Tilda Swinton, Jake Gyllenhaal, Lily Collins e Paul Dano, poderá significar a estreia da Netflix nas secções competitivas de Cannes, após a frieza com que o gigante do streaming foi recebido no ano passado. O filme acompanha uma menina que tenta proteger o seu amigo, um enorme monstro concebido através de manipulações genéticas, da cobiça de grandes multinacionais.
Há ainda esperança de ver em Cannes as novas obras de Hong Sang-Soo – "Claire’s Camera" onde o sul-coreano volta a trabalhar com a atriz Isabelle Hupert – e da japonesa Naomi Kawase, com "Hikari".
Do médio oriente
A saudita Haifaa Al-Mansour (O Sonho de Wadja) é candidata a uma presença na Riviera francesa com a sua primeira produção norte-americana. "Mary Shelley" conta com Bel Powley, Elle Fanning e Maisie Williams numa história de amor que envolve a autora do célebre romance de terror "Frankenstein".
Do Irão, duas possibilidades qua incluem a animação "Tehran Taboo", de Ali Soozandeh, sobre a vida dos jovens habitantes da capital do país e "Disappearance", drama de Ali Asgari sobre um jovem casal a quem é recusada assistência nos hospitais.