25 Mai 2017 18:20
Será este o ano do cinema russo em Cannes? Depois do magnífico "Nelyubov/Loveless", de Andrey Zvyagintsev, eis mais um título marcante na competição para a Palma de Ouro — chama-se "Krotkaya/Une Femme Douce"e tem assinatura de Sergei Loznitsa.
Digamos que se sente o facto de Loznitsa ser também um importante documentarista (vários dos seus trabalhos têm sido conhecidos entre nós através do Curtas de Vila do Conde). Baseado num conto de Dostoievsky, este é o retrato de uma mulher que quer saber o que se passa com o marido na prisão, para tal percorrendo um trajecto dantesco em que deparamos com um espaço social profundamente degradado.
Curiosamente, o mesmo conto de Dostoievsky já tinha estado na origem de um filme de Robert Bresson, em 1969, também chamado "Une Femme Douce" (entre nós "Uma MUlher Meiga"). Escusado será dizer que se trata de abordagens completamente diferentes — em qualquer caso, é pena que o fulgor realista do trabalho de Loznitsa fique, a meu ver, algo diminuído pelo longo "teatro" simbólico com que ele achou por bem encerrar a sua narrativa.
A registar também o facto de este ser um cinema servido sempre por uma notável galeria de actores. Neste caso o destaque vai, necessariamente, para Vasilina Makovtseva, intérprete da "mulher meiga" que tenta sobreviver num mundo sem compaixão. Ela é uma óbvia candidata ao prémio de melhor interpretação feminina. Mais do que isso: "Krotkaya" está entre os favoritos à Palma de Ouro.