27 Mai 2017 22:38
E terminou… Ou quase. Nos últimos anos, o Festival de Cannes tem optado por não apresentar, formalmente, um "filme de encerramento". Em todo o caso, há sempre lugar para alguma revelação de uma produção recentemente concluída — é o caso de "D’ Après une Histoire Vraie", o novo filme de Roman Polanski, exibido extra-competição.
Não será dos momentos mais perfeitos do recente trabalho do realizador de "Repulsa" (1966). Acima de tudo, não encontramos aqui o misto de subtileza dramática e inquietação moral que perpassava em "O Escritor Fantasma" (2010) ou "O Deus da Carnificina" (2011), mesmo se é verdade que o filme tenta rentabilizar ao máximo as sugestões de suspense que estão no romance homónimo de Delphine de Vigan (entre nós publicado pela Quetzal como "A Partir de uma História Verdadeira").
Tudo se passa entre duas mulheres: uma escritora e uma admiradora, também escritora, que se vai imiscuindo na sua vida quotidiana (interpretadas, respectivamente, por Emmanuelle Seigner e Eva Green). Esse processo acaba mesmo por transfigurar-se num exercício de inusitada violência que, no limite, desafia a identidade da escritora.
Digamos que Polanski mantém o seu trabalho num nível de eficácia e competência próprio de um thriller tradicional. Está longe de ser um filme medíocre, mas fica a sensação de que o talento dos envolvidos — desde Polanski ao director de fotografia Pawel Edelman — podia ter gerado um objecto de outro brilhantismo.