18 Ago 2017 18:54
O filme "O Jardim da Esperança", com Jessica Chastain, inspirado num best-seller de Diane Ackerman, veio lembrar-nos que os jardins zoológicos são lugares que apelam a um intenso simbolismo — neles encontramos uma exposição do mundo animal que, de uma maneira ou de outra, nos leva a avaliar a própria dimensão humana. Entre os cineastas que já se interessaram por essa relação entre biologia e história, está o inconfundível Peter Greenaway.
Neste caso, o filme poderia chamar-se ‘Jardim Zoológico’ ou apenas ‘Zoo’, mas dá pelo nome irónico de "A Zed & Two Noughts", ou seja, "Um Z e Dois Zeros". Com música de Michael Nyman, pois claro — eis o genérico de abertura.
"Um Z e Dois Zeros" é o retrato de dois irmãos gémeos que estão instalados num jardim zoológico, precisamente, a estudar o comportamento dos animais. Mas qualquer descrição objectiva é insuficiente, uma vez que Greenaway filma sempre, em última instância, as convulsões e enigmas do comportamento humano — estamos perante uma fábula sobre o ser e o não ser, o humanismo e os seus fantasmas.
Realizado em 1985, "Um Z e Dois Zeros" foi a primeira longa-metragem de Greenaway depois de "O Contrato", filme lançado três anos antes que o transformou numa figura essencial do chamado circuito de arte e ensaio. Depois, títulos como "A Barriga de um Arquitecto" (1987), "O Cozinheiro, o Ladrão, a sua Mulher e o Amante Dela" (1989) ou "Os Livros de Próspero" (1991) deram-lhe um lugar muito especial na história do cinema moderno — ele é, afinal, um genuíno experimentador, sempre empenhado em desafiar o espectadores e as suas certezas.