2 Set 2022 21:51
O realizador norte-americano Todd Field coloca o escândalo #MeToo no coração do seu novo filme, "Tár", mas caracterizá-lo como mero comentário social, ou peça de propaganda política seria desvalorizá-lo, disse quinta-feira a protagonista, Cate Blanchett.
Blanchett interpreta a maestrina dura, dotada e gay de uma grande orquestra alemã, cuja carreira aparentemente imparável é atingida pelo furacão de um escândalo de abusos que nunca é totalmente explicado.
O filme, em estreia no Festival de Veneza, mergulha profundamente no mundo da música clássica e nas complexidades da vida das orquestras. Destaca uma mistura venenosa de sexo, poder e exploração, mas Blanchett nega que sejam estes aspetos o centro da história.
"Embora existam muitos temas quentes neste filme, não se trata de nenhuma dessas coisas. São dispositivos de enredo", disse a atriz australiana, com várias presenças anteriores em Veneza e que serviu como presidente do júri em 2020.
"Há muitas coisas explosivas no filme. Sem querer soar pretenciosa, é muito mais existencial para mim", disse ela, acrescentando: "Não estou interessada na agitprop".
Também negou que o filme tivesse algo de significativo a dizer sobre representação LGBT. "Estranhamente, não pensei de todo no género da personagem nem na sua sexualidade".
Grande parte do filme centra-se em três semanas na vida de Lydia Tar, quando ela deixa de ser uma mega-estrela da música clássica para lutar pela sua sobrevivência profissional.
"Há um elemento de horror (na história) … É para ela uma longa viagem num período muito curto", disse o realizador Todd Field, que apresenta o seu primeiro filme em 16 anos após "Pecados Íntimos" em 2006, que recebeu três nomeações para os Óscares.
Para além da realização, Field também escreveu o guião, e afirma que escreveu o papel principal especificamente para Blanchett, que esteve envolvida no projecto desde o início.
O filme também conta com Nina Hoss, Noemie Merlant, Mark Strong e com a famosa violoncelista Sophie Kauer, que disse ter-se preparado para o seu primeiro papel como actriz ao assistir a aulas de vídeo online do actor britânico Michael Caine.
Blanchett disse aos jornalistas que se sentia atraída pela complexidade da personagem principal, com grande parte do seu passado por dizer. "É alguém que definitivamente colocou o seu passado numa caixa e através do seu grande talento tentou reinventar-se e ser salva … pela música, mas é assombrada por algo".