18 Mai 2023 21:05
A realizadora francesa Catherine Corsini apareceu no tapete vermelho do Festival de Cannes ladeada de vários membros do elenco para a estreia do drama “Le Retour”, que foi objecto de alguma contestação ao longo dos últimos meses.
Corsini, de fato branco, dançou e deu autógrafos antes do seu grupo dar as mãos a caminho do Grand Theatre Lumiere. A realizadora caminhou entre a produtora Elisabeth Perez e a actriz Aissatou Diallo Sagna, vencedora do prémio César para a melhor actriz secundária com o filme de Corsini “La Fracture”, de 2021, igualmente exibido na competição em Cannes e que ganhou a Palma Queer, para o melhor filme LGBTQI+.
Auxiliar de enfermagem num hospital de Paris, Aïssatou Diallo Sagna tornou-se atriz por acaso quando participou num casting para figurantes durante a rodagem de “La Fracture”.
Em “Le Retour” interpreta Khedidja, uma ama que viaja para a Córsega em trabalho com as suas filhas adolescentes Jessica e Farah – interpretadas por Suzy Bemba e Esther Gohourou. A família regressa à ilha que deixou 15 anos antes, em circunstâncias trágicas.
Rodado na Córsega, o filme ficou privado de 680 mil euros em financiamento público após se ter descoberto que uma cena de sexo envolvendo uma actriz menor de 16 anos não fora devidamente declarada às autoridades.
Uma simples “falha administrativa”, segundo a realizadora, mas suficientemente grave para que o Centro Nacional de Cinema lhe retirasse o financiamento, uma decisão rara.
Catherine Corsini, conhecida pelos seus princípios feministas, denunciou em entrevista ao Le Monde “um fundo de misoginia” na origem das críticas que lhes foram dirigidas a partir de uma carta anónima.
Ela e a sua produtora Elisabeth Perez tinham publicado anteriormente um texto de apoio à jovem actriz, Esther Gohourou, que tinha 15 anos e meio na altura das filmagens, e afirmaram querer “pôr fim a esta história”.
“Foram enviados e-mails anónimos e difamatórios a toda a comunidade profissional e à imprensa, contribuindo para criar um rumor muito prejudicial para o filme. Felizmente, o maior festival do mundo dedicou algum tempo a verificar a sua veracidade”, afirmaram as duas profissionais após a selecção do filme para a competição de Cannes.
Corsini disse à revista Variety na terça-feira que acabou por cortar a cena da versão final “para acalmar toda a gente e especialmente para que as pessoas deixassem de incomodar os actores”.
Contando com Corsini, co-fundadora da organização feminista Collectif 50/50, há um número recorde de realizadoras – sete – a concorrer ao prémio máximo este ano.