22 Fev 2024
A partir do microcosmos de uma escola, o realizador turco alemão Ilker Çatak propõe um espelho da sociedade atual, onde os factos e a busca pela verdade, são minados por aparências, preconceitos e relações de poder.
Numa sessão promovida pelo American Film Institute, o realizador sublinhou a ideia da escola ser uma miniatura da nossa sociedade:
“Quando fizemos a nossa pesquisa percebemos que cada escola tem a sua agenda e as suas políticas. Cada escola parece um pequeno país. Estávamos muito conscientes que ao fazer um filme sobre uma escola, também estávamos a fazer um filme sobre um país.”
O país é a Alemanha e o foco das atenções uma escola onde uma série de pequenos roubos perturba a rotina de professores e alunos. Carla (Leonie Benesch) é uma jovem professora de matemática em início de carreira, que tenta chegar à verdade, mas o processo que desencadeia vai provocar o caos.
Gera-se um clima de suspeição constante, são feitas acusações infundadas, manifestam-se desconfianças e sucedem-se atos irrefletidos e até mesmo violentos. Tudo em prol de uma verdade que parece cada vez mais difícil de alcançar, ou gerir, em contexto escolar.
Além do elenco de adultos, Ilker Çatak filma com jovens sem qualquer experiência de representação, mas que conferem ao filme uma camada genuína.
Os miúdos, como explicou o realizador, foram escolhidos e orientados durante a rodagem através de conversas e sessões em grupo:
“Foi muito interessante (…), começámos por juntar grupos de quatro a seis miúdos. Eu seria o professor e eles tinham de me convencer a deixá-los faltar às aulas para irem às manifestações climáticas dos estudantes à sexta-feira (…) Perguntava-lhes coisas como, quais são os medos deles na vida. A relação com os pais. A dificuldade em pedir desculpa. Falava com eles como se fossem adultos.”
A atriz Leonie Benesch destaca-se no elenco enquanto a professora menos experiente, mas mais humana, que tenta aplicar o método da matemática para provar todos os factos sobre os roubos que têm acontecido. Na busca pela verdade, a personagem oriunda de uma família polaca, também sente na pele o desconforto causado por preconceitos xenófobos e ideias pré-concebidas, que se revelam à medida que tenta chegar à verdade.
O filme nunca sai da escola e é nos corredores e nas salas que se desenrola o drama cada vez mais afunilado que opõe professores, alunos e direção escolar, e revela, em muitas circunstâncias, ser um espelho do nosso tempo.
“A Sala de Professores” coloca em evidência as hierarquias, aborda a construção das decisões tomadas em democracia, ou como opiniões divergentes se tornam radicais. Iker Çatak filma o mundo a partir da escola, sublinha a dificuldade em chegar à verdade e as consequências humanas e sociais que daí resultam.
O filme foi premiado no festival de Berlim do ano passado e é o candidato alemão na corrida ao Óscar de melhor filme internacional.