20 Mai 2024
Richard Gere, em tempos um ator principal de Hollywood, afirma ter-se inspirado nos seus sentimentos após a morte do pai para dar profundidade emocional ao papel que desempenha em “Oh, Canada”, para o qual regressou, após décadas, à passadeira vermelha do Festival de Cannes.
“O filme tem muito a ver com a minha própria viagem emocional com o meu pai, que tinha quase 101 anos quando faleceu”, disse Gere à Reuters.
” O Paul (Schrader) escreveu um guião tão maravilhoso e comovente, cheio de personagens incríveis, que foi muito fácil para mim dizer ‘sim'”, acrescentou.
Gere, 74 anos, está quase irreconhecível no papel de Leonard Fife, um homem no fim da vida, decidido a partilhar os segredos da juventude com a mulher que o acompanha há 30 anos, interpretada por Uma Thurman, mediante uma técnica que aperfeiçoou enquanto famoso documentarista.
O filme, que concorre ao maior prémio do festival, é contado por meio de memórias, com Jacob Elordi, de “Euphoria”, a interpretar a versão mais jovem de Leonard.
“Oh, Canada” reúne Gere e Schrader cerca de quatro décadas depois do drama criminal de 1980 “American Gigolo”.
“Agora somos como cães velhos, entendes? É como… ia dizer velhas prostitutas, mas não posso dizer isso”, disse Gere.
“Mas há uma espécie de linguagem abreviada entre nós. Ou seja, não falámos muito durante o processo, mas entendemo-nos compreendemos”, acrescentou.
O filme é baseado no romance “Foregone” de Russell Banks, um amigo de Schrader depois de este ter adaptado “Confrontação”, com Nick Nolte, filme nomeado para um Óscar em 1997.
“O Russell ficou doente. Tão simples quanto isso”, disse Schrader, que recordou como ficou abalado depois de Banks lhe ter pedido para não o visitar porque se sentia mal devido a um cancro. Banks morreu no ano passado.
“Sabia que ele tinha escrito um livro sobre a morte quando estava de boa saúde, por isso o melhor era ler esse livro”, disse Schrader, 77 anos. ” Li e pensei ‘sim, é isto que vou fazer'”.
O realizador contou que também teve de enfrentar a sua própria mortalidade na sequência de algumas visitas ao hospital devido à COVID-19 e a um osso partido.
“Estava a pensar, sabe, talvez, talvez seja agora”, disse. “Naquela altura, começamos a pensar, bem, se ainda me resta mais um filme, sobre o que deve ser?”, disse.
“Felizmente, a minha saúde melhorou”, disse Schrader, acrescentando que talvez ainda tenha alguns filmes para fazer.
Paul Schrader sabia que a “Nova Hollywood” iria mudar o cinema
O realizador Paul Schrader recordou o final dos anos 60, quando ele e os seus contemporâneos do movimento “Nova Hollywood”, vários dos quais estão também presentes no Festival de Cannes deste ano, mudaram a indústria para sempre.
“Não sabíamos quais seriam as ramificações a longo prazo, mas sabíamos que éramos a primeira geração a fazer aquilo”, disse durante a conferência de imprensa.
O festival deste ano servirá como uma mini-reunião para o movimento, com Schrader, 77 anos, a participar ao lado de George Lucas, 80 anos, e Francis Ford Coppola, 85 anos.
Schrader concorre contra a obra de ficção científica de Coppola, “Megalopolis”enquanto Lucas está em Cannes para receber um prémio honorário na cerimónia de encerramento, a 25 de maio.
A um mês do início do festival, Schrader publicou no Facebook uma fotografia sua de 1985, com Lucas e Coppola, com a legenda “Juntos de novo”.
Os estúdios estavam em crise no final da década de 1960 quando o filme de Dennis Hopper “Easy Rider”, de 1969, apareceu, disse Schrader.
O filme ajudou a inaugurar um período conhecido como a era da “Nova Hollywood”, que muitas vezes evitava finais felizes e outras convenções.
“De repente, o ‘Easy Rider’ começa a fazer dinheiro e há um momento de ouro durante cinco ou seis anos em que podíamos entrar num estúdio e eles ouviam-nos”.
Schrader tornou-se conhecido pela colaboração com outro autor da “Nova Hollywood”, Martin Scorsese, incluindo a escrita do argumento de “Taxi Driver”, e pela realização dos seus próprios clássicos.