31 Ago 2024
“The Order”, um filme sobre um violento movimento de supremacia branca na América dos anos 80, é preocupantemente relevante hoje em dia e mostra a necessidade de estar em constante guarda contra o fanatismo, disse o protagonista Jude Law no sábado.
O filme, em estreia mundial no Festival de Veneza, baseia-se em factos e retrata o carismático líder da direita radical, Bob Mathews, que pretendia criar uma pátria para os brancos semeando o terror nos Estados Unidos.
Law interpreta um agente experiente do FBI que se muda para o Noroeste Pacífico dos Estados Unidos na esperança de ter paz e sossego depois de um passado difícil na luta contra a Máfia, mas que acaba por tropeçar no bando de Mathews quando este comete assaltos e homicídios com vista a uma revolução violenta que defende a superioridade de uma suposta raça branca sobre judeus, negros, ou hispânicos.
“Infelizmente, penso que a relevância fala por si… Pareceu-me um trabalho que precisava de ser feito agora”, disse Law, um prolífico ator britânico que também é produtor do filme, realizado pelo australiano Justin Kurzel – cujos créditos incluem “Nitram”, que valeu a Caleb Landry Jones o prémio de Melhor Ator em Cannes em 2021.
“O filme é sobre uma ideologia incrivelmente perigosa e sobre a rapidez com que esta se pode propagar”, disse Kurzel na conferência de imprensa. “O mais chocante para mim, e penso que para todos nós, foi o facto de haver tantas comparações (com os dias de hoje).”
A ideologia que motivou Mathews era semelhante à do grupo extremista Proud Boys, que liderou a invasão do Congresso a 6 de janeiro de 2021, num esforço para anular a derrota eleitoral de 2020 do ex-presidente dos EUA Donald Trump.
Mathews, interpretado pelo ator britânico Nicholas Hoult, atraiu inadaptados e marginais para a sua causa, criando uma família dedicada de seguidores que acreditaram na sua visão de divisão racial e ódio.
Hoult afirmou que o preocupava, enquanto estudava para o papel, o facto de não encontrar nenhum fator específico que tivesse desencadeado o fanatismo de Mathews, como, por exemplo, uma infância violenta.
“O que é assustador nele… é que pode ser completamente desarmante… e provavelmente consegue enfeitiçar-nos”.
O líder racista morreu em 1984, durante o cerco do FBI à casa onde se tinha refugiado no Estado de Washington.
Como preparação para o filme, Kurzel pediu a Law para seguir Hoult durante um dia, como a sua personagem do FBI poderia ter feito. Hoult disse que nunca se apercebeu que tinha sido seguido e só foi informado em Veneza.
“Só descobri no barco”, disse, acrescentando que não falou nem se encontrou com Law durante as primeiras quatro semanas de filmagem para ajudar a criar divisão e tensão entre eles.
A atriz negra Jurnee Smollett, que interpreta um dos membros da equipa do FBI que segue Mathews, disse que é importante que os cineastas continuem a chamar a atenção para o racismo profundamente enraizado nos EUA.
“Exploramos os lados mais complexos da humanidade, a fealdade, a escuridão, para aprendermos com isso e, esperamos, não o repetirmos”, afirmou.
“The Order” é um dos 21 filmes que concorrem ao prestigiado Leão de Ouro do Festival de Cinema de Veneza, que será entregue a 7 de setembro.