28 Set 2024
A Costa Alentejana, um grupo de amigos, uma casa de férias e um segredo do passado são as premissas do filme “Chuva de Verão”. Sete amigos que todos os anos passam férias na mesma casa guardam um segredo que os atormenta. Um novo elemento que chega ao grupo interroga-se sobre o mistério, conta o realizador António Mantas Moura:
A Lua traz o namorado dela que é uma cara nova, ninguém o conhece. Está no meio destas sete pessoas e vem com um olhar de fora sem perceber o que se passa, tal como o espectador. Toma quase um papel de investigação no sentido de perceber o que se passou. Ocorreu um evento traumático, um ano antes de a história começar que, de certa maneira, os afastou. Obviamente ainda pesa e está, aos poucos, a desintegrar o grupo. Há um certo momento em que todos explodimos e que os sentimentos vêm ao de cima e acho que isso é o grande suspense do filme: o que vai acontecer, o que é este segredo e como isto se vai desenrolar.
A ligação emocional a Vila Nova de Mil Fontes e as memórias de férias com os amigos foram a inspiração do cineasta para realizar a sua primeira longa-metragem:
Foi rodado em Vila Nova de Mil Fontes. Foi onde cresci, entre Lisboa e Vila Nova de Mil Fontes, e onde tinha as minhas férias de verão com o meu grupo de amigos. A minha ideia para este filme começou talvez um bocadinho inocente – vou explorar uma amizade entre este grupo e mostrar as partes boas da amizade, momentos felizes entre amigos, as melhores coisas que me posso lembrar dos meus verões enquanto fui crescendo. Obviamente, no ano e meio em que estive a escrever o filme, isto foi mudando para uma vertente mais obscura. Há a parte boa, mas também há a parte má, os segredos.
A rodagem na Costa Alentejana decorreu também em espaços conhecidos de António Mantas Moura. A casa de férias de família do jovem realizador é onde se passa a ação:
Decidimos filmar na nossa casa por uma questão de acesso, por ser mais prático. Lá está, o orçamento, também era muito reduzido, portanto, foi um bocadinho, como se costuma dizer em português, com a prata da casa. As praias onde filmámos são as praias onde passei as férias em pequeno. Os outros locais são sítios a que tínhamos acesso através de amigos, ou pessoas que conhecemos, tudo muito local e tudo por amizades e pessoas que nos foram emprestando coisas com muito boa vontade.
Um triângulo amoroso entre Anita, Miguel e Salvador, uma jovem solitária, a Ema, um casal tóxico formado pela Pipa e Johnny, a dona da casa, a Lua, que traz para o grupo um namorado novo, o Chico, são estas as personagens centrais de “Chuva de Verão”.
A personagem Lua é o elemento do grupo que reúne todos os anos os amigos na casa de férias à beira-mar. O papel é da atriz Inês Aguiar:
É o elemento reconciliador do grupo, digamos, tenta juntar os amigos todos os verões. Uma rapariga com um passado recente que lhe trouxe muita mágoa e memórias não tão boas. Está a passar por um sofrimento interior que é bastante visível no filme. A missão é que todos juntos ultrapassem aquilo que foi um ano difícil para eles.
O ator Filipe Amorim tem a personagem Chico, o namorado de Lua, apresentado ao grupo pela primeira vez:
Ele não faz parte deste grupo de amigos, é o novo namorado da Lua. Nestas férias começa por tentar integrar-se com toda a gente, só que depois percebe que existe uma espécie de antipatia e de exclusão que o resto das pessoas tem para com ele. Gosto de acreditar que o espectador vai, ao mesmo tempo que o meu personagem, que o Chico, descobrindo o porquê desta dinâmica esquisita neste grupo que, supostamente, é de amigos tão unidos, mas onde se nota que há uns segredos e umas entrelinhas.
Interpretada por Alice Ruiz, a personagem de Anita é a namorada de Miguel e amiga de Salvador. Formam um triângulo amoroso:
Está envolvida num triângulo amoroso muito complicado. Age como se fosse a mãe de todos os seus amigos e está sempre a tentar que esteja tudo bem. Não é um filme assim tão leve de amiguinhos que vão à praia e onde está tudo bem. Há outra questão muito mais profunda com a qual todos estão a tentar lidar e que faz com que estejam em constante conflito uns com os outros e, também, com eles próprios.
O Miguel é personagem do ator João Pedro Dantas. Vive um conflito interno sobre a descoberta da orientação sexual:
O Miguel está a atravessar um momento – tal como as outras personagens – de reflexão, decisões que vão ser importantes para a sua vida. Vai viver um triângulo amoroso e é aí que se geram essas indecisões interiores, dúvidas que, às vezes, a sociedade nos impõe na escolha da nossa orientação sexual. Não se conseguiu ainda soltar, aceitar-se e assumir os seus sentimentos.
Duarte Melo interpreta a personagem de Salvador, que desencadeia o triângulo amoroso. Está apaixonado pelo namorado da melhor amiga:
Está apaixonado pelo Miguel e esta paixão vai levá-lo numa espiral de inseguranças, fragilidades, porque está envolvido num triângulo amoroso entre o Miguel e a Anita e esta amizade entre os três vai corroer-se por este amor incompreendido. Ele é homossexual. O que acho interessante é que haja poucas tramas em que o centro seja retratado numa relação homossexual e aqui o que eu acho interessante é que não está num lugar de estereótipo, está num lugar de verdade, porque o amor aqui é transversal e universal, não interessa se gosta de homem ou mulher, o que interessa é que nos amamos e acho que o Salvador traz um bocadinho isso.
A atriz Paula de Magalhães assume o papel de Ema, uma jovem inquieta que questiona o grupo:
Ela é o elemento que perturba mais o grupo face a um acontecimento que as pessoas vão descobrir depois na história. Existe uma espécie de trauma, um segredo, e ela é a materialização desse aspeto que perturba e que é a causa mais desestabilizadora entre os amigos. Representa mais essa parte negra, essa parte mais obscura, essa fragilidade, essa mágoa, essa raiva. Se tivesse de dar sentimentos, ou emoções, às personagens, ela seria mais estas emoções.
Pipa é a personagem da atriz Índia Branquinho, que não sabe como sair de um relacionamento tóxico que tem com o namorado:
É uma mulher que aparenta ser forte e segura, mas que tem as suas fragilidades. Tenta esconder uma dor que a acompanha durante muito tempo e tenta pedir ajuda, mas não quer ser o centro das atenções. Portanto, vive esta dualidade de querer que as pessoas a notem, mas, ao mesmo tempo, tenta passar despercebida. Tem esta relação um pouco tóxica que, no fundo, adora, mas sabe que não lhe faz bem. É uma mulher forte, mas, ao mesmo tempo, não sabe enfrentar os seus medos.
O modelo Francisco Faria estreia-se enquanto ator com a personagem de Johnny, o namorado de Pipa:
O Johnny é o mau da fita. Toda a gente o vê como convencido e arrogante, com uma relação tóxica com a namorada. Durante o filme também vão poder ver que se levantam muitas questões ao nível das amizades, boas e más, e isso também é muito refletido nesta personagem. Tem uma personalidade muito forte. As pessoas veem-no como convencido e arrogante, mas sinto que tem um lado emocional muito forte. Também consegue ser sensível e acabar por não ficar indiferente às pessoas que lhe dizem tanto. Afinal de contas, estamos a falar de um grupo de amigos.
“Chuva de Verão” foi escrito e realizado por António Mantas Moura, que estudou cinema em França e nos Estados Unidos:
Este filme é a minha tese de mestrado que, entretanto, já terminei. A minha ideia foi sempre ter um projeto com ambições artísticas e autorais, obviamente, mas… não gosto desta palavra, mas ser um bocadinho mais comercial, que fosse acessível para o grande público. Obviamente, acho que sim, que trago o meu saber fazer americano. Estudei lá, mas também estudei em Paris. Acho que também trago o lado europeu e sou português, portanto, isso nunca vou largar e tenho sempre esse lado. E o filme é muito português, também.
O filme estreou-se a 26 de setembro nas salas de cinema.