Jean Marais e Josette Day — elogio do surreal, 1946

15 Jun 2017 0:05

A mais recente versão de "A Bela e o Monstro", com chancela dos estúdios Disney, baseia-se numa fábula publicada por Jeannne-Marie Leprince de Beaumont há mais de 250 anos, mais precisamente em 1756. É uma lenda contada e recontada ao longo dos tempos, mas há uma versão cuja vibração poética supera todas as outras — foi realizada por Jean Cocteau e surgiu em 1946.

Esta é a história da Bela encerrada no castelo do Monstro… o Monstro garantindo que o seu coração é bom, mesmo se a sua aparência diz o contrário. Josette Day, a Bela, e Jean Marais, o Monstro, evoluem em cenários que têm tanto de artificioso como de palpável — para Jean Cocteau, o cinema não era uma reprodução do real, mas sim uma porta de entrada nas delícias do surreal.



Depois de Cocteau, a União Soviética adaptou "A Bela e o Monstro", num desenho animado de 1952 intitulado "A Flor Escarlate". Houve variantes cinematográficas e televisivas, mas foram também os estúdios Disney que recriaram a história para uma nova geração, com o filme de animação de 1991.
Estamos, afinal de contas, perante uma história que, de facto, transcende o tempo — o diálogo entre a beleza e a monstruosidade envolve uma espécie de eterna dualidade, ao mesmo tempo humana e sobre-humana. Nesta perspectiva, o filme de Cocteau distingue-se pela mais insólita modernidade — tal como a fábula escrita de "A Bela e a Monstro", a sua poesia está para além das medidas do tempo.
  • cinemaxeditor
  • 15 Jun 2017 0:05

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