14 Mai 2016 18:08
Quem imaginou que o novo filme de Steven Spielberg, "The BFG", implicaria o regresso a um gosto primitivo (tanto cinematografico como literario) da fabula, nao se enganou. Na verdade, ao adaptar o livro homonimo de Roald Dahl, o cineasta de "A Lista de Schindler" (1993) reencontra a alegria narrativa de uma relacao com o mundo da infancia que, obviamente, nao e estranha as memorias magicas de "E.T." (1982).
A evocacao de "E.T." a proposito de "The BFG" (estreia portuguesa: 7 Julho, com o titulo " O Amigo Gigante") torna-se inevitavel, desde logo porque Melissa Mathison e a autora dos respectivos argumentos (faleceu em finais de 2015, sendo o novo filme dedicado a sua memoria). Mais do que isso: "E.T." teve tambem a sua estreia mundial no Festival de Cannes, um evento apoteotico que, alias, tanto Spielberg como a sua produtora Katheleen Kennedy evocaram na conferencia de imprensa de "The BFG", em Cannes (em ambos os casos, extra-competicao).
A historia da pequena orfa, Sophie (Ruby Barnhill), e da sua relacao com o "Bom Gigante Amigo" (big friendly giant, interpretado por Mark Rylance), desenvolve-se a boa maneira classica, primeiro com a passagem para um mundo "alternativo" (dominado pelos gigantes maus) e, depois, com o regresso ao nossa lado do real (envolvendo deliciosas cenas com a participacao da Rainha de Inglaterra, interpretada por Penelope Wilton). E uma verdadeira viagem de iniciacao em que o imaginario aquire o poder de um novo real.
Integrando os mais modernos recursos tecnicos (os gigantes sao trabalhados a partir das imagens previas dos actores, pelo metodo de "performance capture"), "The BFG" e tudo menos um objecto dominado pela ditadura dos efeitos especiais. Procurando uma beleza intrinseca a propria historia, Spielberg sabe preservar a dimensao vital de humanidade que a fabula exige, afinal celebrando uma sensibilidade primitiva que o cinema nao pode esquecer. Nao pode e nao deve.