22 Mai 2015 0:35
Tudo indica que o impacto de "A Grande Beleza" — com vários prémios importantes, incluindo o Óscar de melhor filme estrangeiro de 2014 — deu ao realizador Paolo Sorrentino a possibilidade de alargar o âmbito de produção do seu cinema. Porque não? O resultado chama-se "Youth" (na competição de Cannes) e distingue-se, antes de tudo o mais, por um elenco em que se destacam os veteranos Michael Caine, Harvey Keitel e Jane Fonda, a par de Rachel Weisz e Paul Dano.
O hotel, junto em Alpes, onde decorre a acção constitui uma espécie de aquário simbólico do estado do mundo. Enfim, entenda-se: do mundo como paisagem pontuada pelos confrontos entre a juventude (que o título identifica) e a geração mais velha. Aliás, por calculada ironia de Sorrentino, podemos perguntar se este não é um filme em que o envelhecimento implica também a preservação de alguma juventude.
Porque Caine interpreta um maestro há muito retirado, sendo Keitel, Fonda e Dano personagens do mundo do cinema, atravessando momentos mais ou menos críticos, apetece dizer que este é também um filme sobre a preservação das identidades artísticas. Cada um deles envolve-se numa demanda, ora dramática, ora caricatural, em que a passagem do tempo emerge como tema decisivo.
Acentuando o seu estilo grandioso, em especial numa certa exploração da monumentalidade dos cenários e na calculada intensidade das cores (Luca Bigazzi, colaborador habitual do realizador, assina a direcção fotográfica), Sorrentino confirma-se como um cineasta empenhado em construir fábulas de todos os estados dos comportamentos humanos. Podemos situá-lo numa linhagem italiana a que, obviamente, pertence Federico Fellini — Sorrentino não terá o mesmo fulgor, mas a sua obra parece alicerçada numa pesquisa tão corente quanto obsessiva.