5 Abr 2015 19:48
Ao descobrirmos o mais recente filme interpretado e dirigido por Tommy Lee Jones, "Uma Dívida de Honra", não podemos deixar de lembrar que o western há muito deixou de ser um género regular da produção americana. Em boa verdade, tudo isso começou há cerca de 50 anos, quando as histórias do Oeste passaram a assumir uma nova visão crítica, histórica e mitológica. Um título marcante nesse processo foi "A Quadrilha Selvagem", dirigido por Sam Peckinpah em 1969.
A música de Jerry Fielding ficou como um dos símbolos exemplares do filme — há nela uma espécie de fusão dramática entre as memórias militares do velho Oeste e uma ameaça de tragédia. E é disso que se trata, sem dúvida: "A Quadrilha Selvagem" é a história de um grupo de heróis, ou melhor, de anti-heróis, cansados e desesperados, que tentam um derradeiro golpe tirando partido das atribulações na fronteira com o México.
De facto, neste Oeste amargo e decadente, já não há lugar para heróis imaculados. Para Sam Peckinpah, tratava-se mesmo de colocar em cena as tensões de um universo em que todas as relações tendem a ser mercantis, deixando pouco espaço para os valores clássicos da honra e da solidariedade. Era também o fim simbólico de um cinema alicerçado em actores como William Holden, Ernest Borgnine, Robert Ryan, Ben Johnson e Warren Oates.
Na trajectória de Sam Peckinpah, "A Quadrilha Selvagem" ficou como uma admirável súmula da sua vontade de rever e reavaliar a história da expansão para Oeste, não escamoteando as suas contradições e, em particular, a sua violência visceral. O filme valeu-lhe uma nomeação para o Oscar de argumento que, em todo o caso, não ganhou — seja como for, quase meio século depois, eis um filme que, revendo as leis do cinema clássico, se tornou, de pleno direito, um verdadeiro clássico.