21 Mai 2017 1:48
No documentário e na ficção, as mais diversas lutas contra o flagelo da sida têm sido frequentemente tratadas pelo cinema. Em qualquer caso, a opção de "120 Battements par Minute" envolve alguns factores pouco comuns — trata-se de encenar as intervenções do grupo Act-up (Paris), em particular chamando a atenção para a urgência de desenvolver novas formas de estudo e tratamento da doença.
Estamos, assim, perante um contexto muito particular: na França do começo da década de 90, quando a dimensão global do flagelo da sida é já bem sensível, os elementos do Act-up desenvolvem acções pacifistas que, paradoxalmente ou não, envolvem uma peculiar contundência (por exemplo, lançar sacos de tinta vermelha contra aqueles que suscitam o seu protesto).
Dito isto, importa acrescentar, acima de tudo, que "120 Battements para Minute" não se limita a "evocar" os factos. Escrito, realizado e montado pelo francês Robin Campillo (cineasta francês nascido em Marrocos, em 1962), este é um filme que vive de uma elaborada dramatização, capaz de tratar as personagens para além de uma mera simbologia "social", expondo as suas diferenças e singularidades.
Daí, sem dúvida, a importância dos actores, com inevitável destaque para Nahuel Pérez Biscayart, no papel de um dos militantes mais activos (e também mais tragicamente atingidos pela doença). Devemos, enfim, falar de um genuíno realismo social, confirmando as componentes do anterior trabalho de Campillo — ele é, convém lembrar, argumentista de vários filmes de Laurent Cantet, incluindo "A Turma", vencedor da Palma de Ouro de 2008.