23 Mai 2024
O cinema indiano está em força no 77.º Festival de Cannes, com vários filmes, incluindo o primeiro a ser apresentado na competição principal em trinta anos, “All we imagine as light”, apresentado na quinta-feira.
A indústria cinematográfica indiana rendeu 1,5 mil milhões de dólares nas bilheteiras no ano passado, segundo a consultora Ormax Media, mas exporta pouco para os países ocidentais.
E o país dá pouco apoio aos filmes independentes exibidos nos principais festivais internacionais, como o de Cannes.
Quinta-feira, uma cineasta indiana, Payal Kapadia, entrou na corrida à Palma de Ouro com “All we imagine as light”, um retrato poético de duas mulheres que deixaram a sua região natal para trabalhar como enfermeiras em Bombaim.
Mas o filme necessitou de apoio da França e de outros investidores internacionais para ser produzido.
“A indústria indiana é autossuficiente, por isso muitos cineastas nem sequer sentem a necessidade de enviar o seu trabalho para festivais”, disse Payal Kapadia, 38 anos, à AFP em Cannes.
“Mas se quisermos fazer um filme pequeno, não muito orientado para a narrativa, ou um filme que não funcione no sistema, é difícil encontrar financiamento. O sistema francês (de apoio ao cinema) ajudou-me muito”, acrescentou.
Presença indiana também nas secções paralelas
Houve uma época em que a Índia estava frequentemente representada em Cannes. Chetan Anand foi um dos vencedores da primeira Palma de Ouro, em 1946, com “Neecha Nagar”, e vários filmes estiveram depois em competição, incluindo os de Satyajit Ray.
A presença indiana registou depois um abrandamento com “Swaham” de Shaji N. Karun, a ser a última presença, em 1994.
Payal Kapadia não é a única cineasta indiana este ano em Cannes.
“Sister Midnight” (Quinzena dos Cineastas) aborda um casamento arranjado numa pequena cidade, e “The Shameless” (Un Certain regard) é sobre uma trabalhadora do sexo que foge de um bordel de Deli depois de esfaquear um polícia.
“Santosh”, também na secção Un Certain regard, recebeu óptimas críticas. A história de uma agente da polícia confrontada com a misoginia, a corrupção e a brutalidade numa pequena cidade indiana foi saudada como um “thriller feminista arrebatador e poderoso” (Time Out) e “uma lição de subtileza” (IndieWire).
A realizadora de “Santosh”, Sandhya Suri, disse à AFP que se trata de uma história “difícil e complexa”, mas que a sua primeira preocupação é com “os polícias que (ela) conhece – como é que eles vão ver isto”.
“É um filme que deve parecer realista para um público indiano e não apenas um filme orientado para o Ocidente”, acrescentou.
As estrelas de “Santosh”, Shahana Goswami e Sunita Rajwar, cuja complexa relação é o fio condutor do filme, afirmaram que a Índia conta com muitos grandes cineastas, mas que é frequentemente difícil encontrar uma plataforma de distribuição.
“Na Índia, o cinema é visto sobretudo como entretenimento, pelo que segue as leis do mercado. Os filmes independentes são muito difíceis de fazer, mesmo que sejam baratos”, disse Shahana Goswami.
O seu sonho? Reunir e organizar todas as pequenas empresas independentes. Payal Kapadia, por seu lado, espera que a Índia possa seguir o exemplo francês e dar aos filmes de autor uma parte dos lucros dos êxitos de bilheteira.
“Se uma pequena percentagem fosse colocada num fundo destinado aos filmes independentes, isso ajudaria muita gente”, espera.