09 Nov 2023

Os atores e os grandes estúdios de Hollywood chegaram quarta-feira a um acordo para pôr fim à greve que paralisa há vários meses a produção de filmes e séries nos Estados Unidos e custa milhares de milhões à economia americana, anunciou o sindicato SAG-AFTRA.

A greve termina quinta-feira, graças à obtenção de um novo acordo coletivo de três anos “avaliado em mais de mil milhões de dólares”, explicou a organização num comunicado de imprensa.

O sindicato publicará os pormenores dentro de alguns dias, mas insiste que o seu alcance é “extraordinário”. Inclui, nomeadamente, um aumento significativo do salário mínimo, salvaguardas em matéria de inteligência artificial e estabelece, “pela primeira vez”, um sistema de bónus para a transmissão de repetições.

Os 160 mil atores, bailarinos e duplos que fazem parte do SAG-AFTRA têm ainda de votar a aprovação do novo acordo coletivo antes que as grandes estrelas e os figurantes possam regressar às filmagens possam ser retomadas. Um passo visto por muitos como uma formalidade.

 

As estrelas festejam

Os grandes nomes de Hollywood festejaram o fim da greve. “A perseverança compensa!”, exclamou Jamie Lee Curtis no Instagram. “Estou muito feliz por termos chegado a um acordo”, saudou Zac Efron na passadeira vermelha da estreia do filme “Iron Claw”. “Vamos voltar ao trabalho, vamos a isso, estou muito feliz”.

Nas últimas duas semanas, as negociações com os estúdios foram quase diárias, muitas vezes com a presença dos CEOs da Disney, Netflix, Warner Bros e Universal. A necessidade de pôr fim à paralisação tornou-se premente. A maioria dos atores que não estavam a filmar sentia cada vez mais dificuldade em sobreviver. Alguns, tiveram mesmo de recorrer a outros empregos.

Os estúdios, por seu lado, viam aumentar as falhas nos seus calendários de estreias para o próximo ano e seguintes, com grandes produções como a segunda parte da saga “Dune” e a série de televisão “Stranger Things” a serem adiadas. A Alliance of Motion Picture and Television Producers (AMPTP), que os representou nas negociações, descreveu o acordo como um “novo paradigma” para o sector. A indústria “aguarda com expetativa o regresso à atividade de contar grandes histórias”, declarou em comunicado.

 

Uma crise histórica

A indústria acaba de passar por uma dupla greve histórica. Quando os atores entraram em greve em meados de julho, já os argumentistas tinham interrompido o trabalho no início de maio.

Ambos partilhavam um problema: a maioria deles já não consegue ganhar a vida decentemente na era do streaming. Não só porque as plataformas estão a produzir séries com muito menos episódios por temporada do que na televisão, mas também porque a Netflix e outras empresas reduziram drasticamente o rendimento por cada repetição de filmes e séries.

Ao contrário da televisão, onde as remunerações assentam num modelo de publicidade ligado aos índices de audiência, uma obra difundida em streaming está sujeita a um pagamento fixo, independentemente da popularidade do programa.

Desde 1960 que Hollywood não vivia uma crise deste género. No total, a paralisação custou pelo menos seis mil milhões de dólares, segundo estimativas recentes de economistas.

A presidente da câmara de Los Angeles, Karen Bass, saudou um “acordo justo”, recordando que a greve afetou “milhões de pessoas” no país.

 

O medo da Inteligência artificial

Os estúdios chegaram finalmente a um acordo com os argumentistas no final de setembro e a maioria regressou ao trabalho. Mas as negociações com os actores arrastaram-se.

Segundo a imprensa especializada, o compromisso traduziu-se num aumento do salário mínimo de cerca de 8% relativamente ao anterior acordo, o maior aumento das últimas décadas, mas aquém das exigências iniciais dos atores.

Do lado do streaming, será introduzido um sistema de bónus para os atores que participem em séries ou filmes de sucesso.

A supervisão da inteligência artificial foi outro grande ponto de discórdia, sobretudo no final das negociações. Os atores temiam que os estúdios utilizassem esta tecnologia para clonar a sua voz e imagem, a fim de as reutilizar perpetuamente, sem compensação ou consentimento.

  • CINEMAX - RTP c/ AFP
  • 09 Nov 2023 15:23

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