07 Set 2023
A realizadora americana Ava DuVernay apresentou esta quarta-feira em Veneza “Origem”, um filme que vai às raízes do racismo e que é também o primeiro de uma mulher afro-americana a competir no mais antigo festival de cinema do mundo.
“Este ano, aconteceu algo que não acontecia há oito décadas: uma mulher afro-americana em competição”, sublinhou a realizadora numa conferência de imprensa na Mostra. “É uma porta que se abriu e espero, tenho a certeza, que o festival a vai manter aberta”, acrescentou a realizadora que se tinha destacado em 2012 ao tornar-se a primeira mulher afro-americana a ganhar o prémio de Melhor Realizador no Festival de Cinema de Sundance com “Middle of Nowhere”.
Em 2015, foi também a primeira realizadora afro-americana nomeada para o Globo de Ouro de Melhor Realizador por “Selma”, um filme sobre o movimento dos direitos civis nos Estados Unidos e, em particular, sobre o papel de Martin Luther King.
“A Origem” é baseado no livro “Caste”, da jornalista americana Isabel Wilkerson, que aborda as origens do racismo, explorando desde a segregação racial nos Estados Unidos até às políticas anti-semitas do regime nazi e ao sistema de castas na Índia.
“Fiquei fascinado com as ideias desenvolvidas por Isabel Wilkerson no seu livro”, explicou o realizador, que optou por “contar a sua história através de um formato que é metade uma adaptação (do livro) e metade uma adaptação da vida” da jornalista.
“A vida dela não está no livro. Tudo o que vemos sobre ela no filme, foi ela que me contou”, acrescentou. O filme acompanha a investigação da jornalista, interpretada por Aunjanue Ellis-Taylor, que a leva de Berlim a Nova Deli.
Depois das tragédias da escravatura, da segregação e do Holocausto, “a questão é: como vamos criar um novo futuro? “Começa com cada indivíduo (…) Toda a gente pode tornar-se aquele indivíduo que vai contra a corrente numa situação”, espera a realizadora de 51 anos.
“É isso que realmente me motiva no meu trabalho”, diz ela. “Quando se é um artista, tem-se a responsabilidade de criar um mundo que não existe”.
Em 2016, Ava DuVernay realizou um documentário sobre o encarceramento em massa de pessoas negras nos Estados Unidos, “The 13th”, no qual já explorava as ligações entre discriminação racial e justiça.