8 Nov 2014 12:48
Por mais estranho que isso pudesse parecer há duas ou três décadas, hoje em dia todos reconhecemos que cinema e televisão possuem uma história comum, com muitas e frutuosas cumplicidades. O projecto "Heimat", de Edgar Reitz — que já foi série televisiva e também é objecto de cinema — é um exemplo recente que permite confirmar tal tendência.
"Berlin Alexanderplatz", de Rainer Werner Fassbinder, adaptando o romance homónimo de Alfred Döblin, constitui um marco desse fenómeno. Nele se retrata a Alemanha da década de 1920, a partir da experiência singular de Franz Biberkopf (admirável composição de Günter Lamprecht), um ex-prisioneiro que atravessa um tempo cada vez mais marcado pelos sinais da ascensão do partido nazi — uma evocação de vivências muito reais que se confunde com a metódica travessia de um pesadelo.
O resultado é um imenso fresco narrativo, ao mesmo tempo histórico e fantasmático — são 14 episódios com uma duração total de 15 horas e meia. "Berlin Alexanderplatz" surgiu em 1980, tendo Fassbinder falecido dois anos mais tarde, contava 37 anos. Seja como for, entre 1980 e 1982, ainda realizou quatro filmes: "Lili Marleen", "Lola", "A Saudade de Veronika Voss" e "Querelle" — em conjunto com "Berlin Alexanderplatz", são títulos que definem uma espécie de testamento, ao mesmo tempo lúcido e desesperado, cinematográfico e televisivo.