10 Nov 2017 11:12
Projetos terminados, lançamentos de filmes cancelados, filmagens suspensas, estúdio ameaçados de falência, a corrida aos Oscars irremediavelmente afetada… Os casos de abuso sexual de Harvey Weinstein, Kevin Spacey, Brett Ratner e outros criaram um caos imensurável em Hollywood.
Um mês depois do artigo do New York Times e das revelações do New Yorker sobre o produtor Harvey Weinstein, acusado de assédio, agressões sexuais e violações por atrizes e funcionárias, soltaram-se as línguas e os ídolos começaram a cair.
A estrela Kevin Spacey, vencedor de dois Oscars, e o cineasta Brett Ratner, também são acusados de múltiplos abusos sexuais. Outros atores, executivos e agentes, continuam na mira das acusações.
"Quem será o próximo?", perguntou o Los Angeles Times no domingo.
"É um caos que, assim espero, abrirá caminho para a cura", disse a atriz Jessica Chastain em entrevista à AFP.
"Houve escândalos em Hollywood desde a era do cinema mudo, mas era algo esporádico. Trabalho na Variety há trinta anos e nunca vi nada assim", disse Tim Gray, editor-chefe da prestigiada revista de cinema e televisão.
Agora, ninguém quer ser associado a projetos que levem o selo dos irmãos Weinstein, enquanto há alguns meses era uma promessa de prestígio. O realizador Oliver Stone, que inicialmente defendeu o Sr. Weinstein, decidiu retirar-se do projeto da série "Guantánamo". O último filme da Weinstein Company, "Amityville: o Despertar", lançado em outubro, foi um enorme desastre de bilheteira e a empresa, já enfraquecida por um conjunto de fracassos, está à beira da falência.
Outros estúdios encontram-se em tumulto. O gigante da internet, a Amazon, viu Roy Price, diretor de desenvolvimento de conteúdos, ser atacado por acusações de assédio sexual que o conduziram à demissão.
Os danos colaterais destes escândalos também são visíveis. A esperada série de TV de David O. Russell foi "torpedeada", explicou a atriz Julianne Moore numa entrevista. "Com a debacle Weinstein e o outro problema na Amazon, todos se retiraram" do projeto, lamentou a atriz vencedora de um Oscar que faria parte do elenco ao lado de Robert de Niro.
O gigante Netflix também está em crise. Teve de desfazer-se rapidamente da estrela da sua série emblemática "House of Cards", Kevin Spacey, acusado de assédio e agressão sexual a menores de idade. A filmagem da temporada seis foi interrompida abruptamente e a transmissão de um filme co-produzido e interpretado por Spacey, foi cancelada.
Na Warner Bros, o incêndio chegou à parceria financeira de centenas de milhões de dólares com o realizador e produtor Brett Ratner e a sua empresa Ratpac, levando ao fim da tão esperada adaptação do best-seller "The Goldfinch".
Ninguém é insubstituível
"É uma lição que mostra como ninguém é insubstituível. Kevin Spacey era a grande estrela de ‘House of Cards’, mas a Netflix pensou ‘vamos desenrascar-nos sem ele’", diz Tim Gray.
A corrida ao Oscar também foi agitada. A Sony Pictures apostava no último de Ridley Scott, "All the Money in the World", com Kevin Spacey num dos principais papéis, mas a campanha para as estatuetas terminou abruptamente.
Quatro meses antes dos Oscars, "quem sabe o que vamos descobrir sobre outras pessoas envolvidas na corrida?", pergunta Gray.
Quanto à Academia, foi rápida a excluir Harvey Weinstein das suas fileiras, mas tem-se mantido discreta desde então perante o elevado número dos seus membros presentes no banco dos réus da opinião pública.
E isto sem mencionar a grande limpeza nos bastidores de Hollywood: o ator Tyler Grasham foi demitido da agência APA, o executivo David Guillod renunciou ao seu posto na Primary Wave Entertainment, ambos acusados de agressão sexual, circula ainda uma petição contra o ator Danny Masterson, etc.
"Isto mostra que há algo errado numa indústria" que afirma ser moral e progressista: "Primeiro houve o problema da falta de diversidade" e as acusações de discriminação contra mulheres e minorias étnicas e "agora o abuso sexual", acrescenta Gray.
O editor-chefe da Variety não imagina Weinstein, Spacey, ou Ratner a trabalharem novamente na indústria: "Hollywood adora regressos, mas estas coisas não se podem perdoar", conclui.