19 Fev 2015 22:22
A guerra é um elemento importante na filmografia de Clint Eastwood. Ou melhor, as guerras. Com o seu título mais recente, "Sniper Americano", descobrimo-lo a retratar a guerra do Iraque. Mas nem sempre a sua visão incidiu sobre os soldados americanos. Em 2006, dirigiu dois filmes paralelos sobre a batalha de Iwo Jima, no Pacífico, durante a Segunda Guerra Mundial — um centrava-se nos americanos e chamava-se "As Bandeiras dos Nossos Pais"; o outro, sobre o lado japonês, tem o título "Cartas de Iwo Jima".
"Cartas de Iwo Jima" não é um daqueles filmes tradicionais em que todas as personagens, seja qual for a sua origem, acabam por se expressar na mesma língua. Para filmar a construção dos túneis de defesa dos japoneses, aguardando a chegada das tropas americanas, Clint Eastwood fez questão em fazer um filme sobre japoneses, falado em japonês.
Um dos efeitos mais espantosos de "Cartas de Iwo Jima" é o elaborado contraste entre a grandiosidade dos movimentos colectivos e a crueza das experiências individuais. este é um filme que possui a dimensão de um grande fresco histórico, ao mesmo tempo que confere uma paciente e metódica atenção ao desenvolvimento das suas personagens centrais — neste sentido, é um filme em que se cruzam muitas formas de solidão.
Vencedor de um Oscar para melhor montagem sonora, "Cartas de Iwo Jima" resulta um exemplo maior de um cinema capaz de lidar com o carácter irracional da guerra, ao mesmo tempo valorizando a pluralidade dos elementos humanos, suas evidências e ambiguidades — Clint Eastwood é, afinal, no cinema americano das últimas décadas, o mais directo herdeiro do classicismo de John Ford.