03 Set 2024

Claude Lelouch, que aos 86 anos apresenta em Veneza o seu 51.º filme, fora de competição, não tenciona reformar-se. “Enquanto as ideias continuarem a surgir na minha cabeça, vou continuar a fazer este trabalho. E, neste momento, nunca tive tantas ideias”, diz Lelouch.

“Sei muito bem que, na minha idade, podem dizer-me para parar a qualquer momento. E, de momento, o meu cérebro continua a funcionar muito bem e, acima de tudo, continuo a maravilhar-me”, acrescentou durante a conferência de imprensa de apresentação de “Finalement”, uma comédia protagonizada por Kad Merad, Elsa Zylberstein, Michel Boujenah, Sandrine Bonnaire e Françoise Fabian.

O filme segue as peripécias de Lino, um advogado brilhante interpretado por Kad Merad, que abandona a carreira e a família para vaguear pelas estradas de França, conhecendo muitas pessoas invulgares. A sua mulher, uma atriz famosa (Elsa Zylberstein), segue os seus passos, acompanhada pelo seu melhor amigo (Michel Boujenah).

“Acho que criámos um mundo que nos torna prisioneiros. A certa altura, somos prisioneiros de tudo o que temos. Somos prisioneiros da nossa família, dos nossos filhos, do nosso trabalho. (…) A dada altura, todos queremos recomeçar as nossas vidas”, explicou o realizador.

As tribulações de Léo estão imbuídas de um otimismo inveterado, transportado pela música, seja através do trompete de Kad Merad, ou das canções que canta, escritas por Didier Barbelivien.

“É verdade que tenho uma tendência irritante para ser otimista. Sou otimista porque vivi a guerra e o pós-guerra. Escapou-me o pior. E quando se escapa ao pior, tudo o resto é muito doce”, comentou o cineasta.

A personagem de Léo “simboliza completamente este homem que procura o essencial, sem o procurar. Deixa-se levar pelo presente. E o presente tem todas as qualidades”, explicou. “É um filme muito parecido comigo”, concluiu.

Antes da exibição do filme na noite de segunda-feira, Lelouch receberá o prémio “Glória ao Cineasta” da Mostra, “dedicado a uma personalidade que tenha deixado uma marca particularmente original no cinema contemporâneo”.

O cineasta de 86 anos é mundialmente conhecido por “Um Homem e Uma Mulher”, que ganhou a Palma de Ouro em Cannes em 1966 e dois Óscares.

  • CINEMAX - RTP c/ AFP
  • 03 Set 2024 08:58

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