23 Mai 2014 19:01
Leviatã: criatura mitológica, de grandes proporções, muito frequente no imaginário dos navegantes europeus. No Antigo Testamento, a imagem do Leviatã é retratada pela primeira vez no Livro de Jó, capítulo 41. Foi considerado pela Igreja Católica, durante a Idade Média, como o demónio representante do quinto pecado, a inveja.
Assim vai a Rússia, apetece dizer após vermos o novo filme de Andrei Zvyangintsev, uma das propostas mais sólidas desta competição do Festival de Cannes.
A história que é contada em "Leviathan" remete para uma disputa sobre a propriedade de um terreno localizado junto a um estuário que desagua no mar de Barents. A ação acontece numa aldeia no interior remoto da Rússa e o conflito é protagonizado por um autarca, que pretende aprovar um projeto imobiliário num local com ótima vista, e o proprietário, que recusa vender a sua casa.
Como sucedia em "Elena", o seu filme anterior, premiado na secção Un Certain Regard em Cannes, há dois anos,
Andrei Zvyagintsev aprofunda subtilmente as relações pessoais adensando a complexidade das opções de carácter moral, revelando uma sociedade profundamente corrupta.
"Leviathan" oscila entre o thriller e a comédia negra social, aludindo a um momento político muito concreto, focando a atenção no regime de Vladimir Putin, através dos dirigentes políticos locais e das autoridades policiais, sem perder de vista a igreja ortodoxa russa, que sustenta uma certa forma de estar em família e na sociedade.
Onze depois de uma estreia auspiciosa em Veneza, quando "O Regresso" foi consagrado com o Leão de Ouro, Zviagintsev está entre os favoritos para ganhar a Palma de Ouro.