

DIAMANTE BRUTO: o brilho enganador da fama
Realizadora e protagonista falam do sonho de Liane, uma jovem de 19 anos obcecada pelas redes sociais e determinada a conquistar a fama num reality show, revelando os desejos e as feridas de uma geração moldada pela busca de visibilidade, num retrato cru do sul de França.
“Diamante Bruto” acompanha o sonho do Liane, uma jovem de 19 anos que vive no sul da França com a mãe e a irmã mais nova. Quer participar num reality show.
Liane é obcecada pelas redes sociais. Quer tornar-se célebre e famosa a todo o custo. Vai fazer um casting para entrar num reality show. O filme acompanha a espera por uma resposta. A jovem atriz Malou Khebizi interpreta Liane:
Liane é uma jovem da sua geração, da geração das redes sociais. Está firmemente ancorada na sua geração, na geração das redes sociais. Tem a impressão de ter sido abandonada em todos os aspetos da sua vida. Por isso, faz tudo para que as pessoas a amem, para que olhem para ela. E, acima de tudo, não quer passar despercebida.
Não procura sensações pessoais. Está completamente desligada do seu corpo, das suas emoções e da sua sexualidade. Por isso, não é uma personagem que esteja a tentar destruir-se. Nunca é sedutora, quer agradar, mas não quer seduzir. É uma personagem que precisa de amor, que tem uma grande ferida de amor.
Sonha entrar num reality show. É determinada, combativa e com um gosto pela vida. Tudo gira em torno da sua beleza, do que ela mostra ao mundo. É só o que lhe interessa. É uma jovem que nem sequer sabe quais são os próprios desejos enquanto jovem. Não está interessada nisso.
Mesmo sendo muito diferente da personagem que interpreta, Malou Khebizi compreende o que motiva Liane, uma jovem desta geração que não tem limites:
Há muitas coisas que me são próximas. Comecei a gostar desta personagem porque a compreendo. É uma personagem que cresceu com as redes sociais como eu. Em termos de personalidade, é tenaz, teimosa, vai direta ao assunto e acredita nas suas convicções e nos seus sonhos. Isso ecoa um pouco daquilo porque tenho passado, ainda que eu seja mais ponderada na minha vida pessoal.
“Diamante Bruto” parte da curta-metragem “J’attends Jupiter”, de Agathe Riedinger. A curiosidade em perceber a popularidade dos reality shows e o que leva as pessoas a quererem participar destes programas motivou a cineasta a realizar uma longa-metragem:
Queria fazer uma longa-metragem para falar desta história e da realidade das redes sociais, da beleza, de todos os programas que acho extremamente violentos.
São programas fabricados com muita violência que transmitem muitos valores violentos. Transmitem o desprezo de classe, a hipersexualização da mulher, muitas coisas que foram literalmente ignoradas, de facto, pela sociedade. Não se questiona sobre o uso desta violência para criar entretenimento.
Também quis explorar a noção de beleza e prestar homenagem às concorrentes dos reality shows que me parecem verdadeiras guerreiras.
Mostra a utilização da feminilidade destas mulheres que considero muito afirmativa, da sua independência e da forma de querer evocar o poder e criar um lugar na sociedade. Ao mesmo tempo, é também sobre pressupostos patriarcais muito antigos que ainda hoje assumem que uma mulher tem de ser bonita para ter valor.
A realizadora escolheu filmar na cidade de Fréjus, à beira-mar, na Côte d’Azur, para mostrar a outra realidade do sul de França:
A escolha de Fréjus foi algo em que pensei desde que comecei a escrever porque é uma cidade com uma tendência política extremista e com a violência que inevitavelmente resulta disso. Era importante que a personagem de Liane fosse uma personagem abandonada pela sua cidade pela sociedade.
É também uma zona do sul de França que me interessava porque raramente é mostrada nos filmes. Do ponto de vista da estratégia cinematográfica é uma zona muito importante para mim. Foi um local que nos permitiu ir mais longe do que os cenários que estamos habituados a ver e mostrar a outra imagem da magnífica Côte d’Azur, por vezes mais pobre e por vezes também com uma luz particular. Tem locais que também se parecem um pouco com o Itália e se afastam das imagens que estamos habituados a ver no sul de França.
“Diamante Bruto”, primeira longa-metragem de Agathe Riedinger foi apresentada no Festival de Cannes. É uma reflexão sobre a popularidade dos reality shows e o que motiva as pessoas a quererem fazer parte destes programas de televisão.
Chega esta semana às salas portuguesas.
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