31 Dez 2021 1:14
"Duna", de Denis Villeneuve, um dos títulos que marcou o ano de 2021, aceita o desafio de passar para cinema o romance de ficção científica de Frank Herbert, publicado em 1965. Nos anos 70, o chileno Alejandro Jodorowsky tentou, mas o projecto teve tantos percalços que acabou por ficar pelo caminho. Resta evocar a versão de David Lynch, lançada em 1984, tendo como um dos seus emblemas a música de Brian Eno.
Naquela altura, não seria o projecto óbvio para um cineasta como David Lynch. Afinal de contas, ele tinha assinado duas longas-metragens — "Eraserhead" (1977) e "O Homem Elefante (1980) — que nada tinham a ver com as epopeias de ficção científica. Mas foi a música, de facto, que ficou como uma espécie de assinatura simbólica de "Duna" — através do tema de Brian Eno e também da contribuição da banda rock de Los Angeles, Toto.
Foi o produtor italiano Dino de Laurentiis que convenceu David Lynch a filmar "Duna". E não há dúvida que meios não faltaram, desde a monumental cenografia até ao elenco que incluía nomes como Patrick Stewart, Virginia Madsen, Max von Sydow, o cantor Sting (que se preparava para lançar o primeiro álbum a solo, depois do fim da banda The Police) e, claro, no papel de Paul Atreides, Kyle MacLachlan, futuro protagonista de "Twin Peaks".
Uma coisa é certa: a produção de "Duna" foi atribulada, envolvendo questões orçamentais e, por fim, uma montagem com que o próprio David Lynch nunca concordou. O filme ficou como uma espécie de ovni bizarro, tão imperfeito quanto fascinante. Depois, Lynch achou prudente regressar às suas histórias mais secretas, e também mais intimistas. Que é como quem diz: ao conforto do "Veludo Azul" (1986).