6 Nov 2021 22:54
Aos 80 anos de idade (celebrados a 24 maio 2021), Bob Dylan é um criador que mantém uma relação regular com o cinema há mais de meio século. Isto porque foi em 1965 que D. A. Pennebaker registou a sua lendária digressão no Reino Unido, quando Dylan foi acusado de trair a tradição da música folk por começar a usar guitarras eléctricas. O filme, lançado dois anos mais tarde, portanto em 1967, intitula-se "Dont Look Back" — entre nós "Eu Sou Bob Dylan". É nesse filme que encontramos a célebre cena em que Dylan vai acompanhando uma canção, "Subterranean Homesick Blues, através de uma série de cartões em que se podem ler palavras e expressões da respectiva letra: uma espécie de antecipação dos telediscos dos anos 80.
Menos falado é o facto de Dylan ter contribuído de forma decisiva para um dos grandes westerns dos anos 70. É verdade: foi ele que compôs a banda sonora de "Duelo na Poeira", o lendário "Pat garrett & Billy the Kid", realizado por Sam Peckinpah em 1973. Com dois pontos a reter: Dylan participa também no filme como actor e foi aí que surgiu uma das suas canções mais célebres: "Knockin’ on Heaven’s Door".
Mesmo quando não foi protagonista da música, Dylan deixou marcas fortes por onde passou. E um dos eventos míticos em que participou foi o concerto de despedida do grupo The Band, concerto que Martin Scorsese registou, dando origem ao filme "A Última Valsa", lançado em 1978 — com a ajuda de Robbie Robertson, Levon Helm e os outros elementos de The Band, Dylan cantou vários temas clássicos, incluindo "For Ever Young".
Bob Dylan e Martin Scorsese voltariam a colaborar em 2005, num filme biográfico que ficaria como um clássico absoluto das relações do cinema com a música. Nele encontramos um criador de excepção, nunca abdicando da sua singularidade artística, nem mesmo quando lhe chamaram “Judas” por causa do uso das guitarras eléctricas. Falamos, claro, do filme "No Direction Home", título que provém de um verso de "Like a Rolling Stone".
De novo com Scorsese, redescobrimos Dylan mais recentemente, em 2019, através de "Rolling Thunder Review", memória de uma digressão muito especial realizada em 1975, em que participaram também Joan Baez, Patti Smith e Joni Mitchell — uma verdadeira celebração, revisitando e reinventando canções, a meio caminho entre o teatro e o circo.