EVA (1962)
Em 2018, Benoît Jacquot realizou "Eva" a partir de um romance de James Hadley Chase — 56 anos antes, o americano Joseph Losey, a trabalhar em Inglaterra, adaptou o mesmo romance, contando com Jeanne Moreau no papel central.
Foi em 1962 que Joseph Losey dirigiu "Eva", filme que adaptava um romance de James Hadley Chase centrado numa mulher de Hollywood, de moral duvidosa, capaz de perverter a suposta estabilidade do universo masculino. O cartaz original do filme definia-a como “o oitavo pecado mortal”. O papel central pertencia a Jeanne Moreau e a música tinha o toque inconfundível de Michel Legrand.
No filme de Joseph Losey, o jogo masculino/feminino era vivido por Jeanne Moreau e Stanley Baker — tratava-se, afinal, de um quadro de sentimentos e emoções bem típico das convulsões morais da década de 60. Agora, no novo "Eva", de Benoît Jacquot, baseado no mesmo romance, temos Isabel Huppert e Gaspard Ulliel num insólito frente a frente — dir-se-ia um exercício de manipulação para saber quem conhece, ou quem domina, o desejo do outro.
Ambos os filmes têm assinatura de autores relativamente marginais. Benoît Jacquot é um dos grandes individualistas do actual cinema francês, com uma filmografia consolidada ao longo de quatro décadas; Joseph Losey era, na altura, um exilado, uma vez que tinha abandonado os EUA a partir do momento em que foi inscrito na “lista negra” de Hollywood e se tornou alvo das perseguições maccartistas.
Talvez possamos dizer que aquilo que aproxima estas duas Eva(s) separadas por 56 anos — 1962/2018 — é um profundo desencanto romântico. Ou, se quiserem, um romantismo que cedeu por completo ao desencanto existencial. Há na banda sonora do filme de Losey uma canção que o próprio Jacquot talvez não desdenhasse — chama-se “Willow, Weep for Me” e surge na voz mágica de Billie Holiday.
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