21 Fev 2023 12:51
Após ter sido a rainha Elizabeth II, papel que lhe valeu um Óscar em 2007, Helen Mirren interpreta agora uma personalidade menos consensual, a antiga primeira ministra israelita Golda Meir, num filme apresentado segunda-feira à noite na Berlinale.
O filme centra-se no período da Guerra do Yom Kippur, em outubro de 1973, dias que continuam a assombrar a memória colectiva de Israel no final do mandato de Golda Meir como primeira-ministra.
Apanhado de surpresa no meio das férias do Yom Kippur, as mais importantes do calendário judaico, o Estado hebreu vacilou sob o fogo cruzado do Egipto e da Síria. O exército israelita só conseguiu recuperar a vantagem após graves reveses e à custa de mais de 2.500 mortes.
"Este é o Vietname de Israel", disse o realizador Guy Nattiv na conferência de imprensa, acrescentado que esperando que o filme reabra os debates sobre este tema no seu país.
No filme, "Golda não é mostrada como uma personagem perfeita, cometeu erros, erros, mas assumiu responsabilidades, algo que os líderes políticos não fazem hoje em dia", acrescentou.
A mulher que foi uma das fundadoras da nação e signatária da declaração de independência demitiu-se em 1974 e morreu quatro anos mais tarde.
"Foi injustamente denegrida em Israel" e "nunca culpou ninguém" pelos erros cometidos, disse Helen Mirren à imprensa. Era uma líder "totalmente dedicada sem ser ditatorial ou estar embriagada pelo poder".
No filme, que opta por se centrar no ponto de vista das autoridades civis e militares israelitas, os combates só são mostrados do ar.
Nascido em 1973, o realizador israelita afirma estar a reabilitar uma figura política que foi por vezes contestada, forte mas inflexível, e que tomou posições radicais sobre a questão palestiniana.
Polémica
O filme não esconde a paralisia inicial do poder israelita, nem as dificuldades em convencer a América de Richard Nixon, no meio da Guerra Fria, a ajudar o seu aliado.
No ecrã, Helen Mirren, 77 anos, envolve-se no papel, interpretando uma líder trabalhista crepuscular, sozinha no momento das decisões mais difíceis, fumando cigarro atrás de cigarro.
Enquanto gere a crise mais grave da história do seu país, trata secretamente o cancro que a devora e que a armada de ministros militares e governamentais – todos homens – sob a sua autoridade não deve conhecer.
No filme, a sua única confidente é a assistente pessoal, interpretada por Camille Cottin.
Filmado em inglês, com uma actriz principal britânica, o filme já causou controvérsia no Reino Unido, com questões sobre a escolha de uma actriz não judia para interpretar Golda Meir.
"Fiquei surpreendido ao ver esta reacção", disse o realizador Guy Nattiv numa conferência de imprensa, dizendo que é tão absurdo decidir que só os actores judeus podem interpretar personagens judias como proibir os judeus de interpretar personagens não judias.
"E se amanhã fizermos um filme sobre Jesus Cristo, quem irá interpretá-lo? Um judeu ou um não-judeu?", lamentou Lior Ashkenazy, que interpreta o General David Elazar no filme.
"Bem, eu certamente que não!" riu Helen Mirren.