

Festival de Cannes abre com homenagem a De Niro e reflexões sobre Gaza, Ucrânia e o futuro do cinema
A 78.ª edição do Festival de Cannes arranca com a homenagem a Robert De Niro, protestos contra o “genocídio em Gaza” e preocupações com tarifas protecionistas dos EUA.
A 78.ª edição do Festival de Cinema de Cannes arranca esta terça-feira com uma cerimónia que promete ser marcada pela presença de estrelas ao lado de protestos simbólicos e preocupações geopolíticas. No centro das atenções estará o ator Robert De Niro, que receberá uma Palma de Ouro de carreira, numa edição que abre sob a sombra das guerras na Ucrânia e em Gaza, e das vagas ameaças de tarifas protecionistas por parte dos Estados Unidos.
O festival começa com a exibição de “Partir un Jour”, primeira longa-metragem da realizadora francesa Amélie Bonnin, protagonizada por Juliette Armanet. É a primeira vez que uma primeira obra abre o evento. “É a terceira vez, depois de Diane Kurys e Maïwenn, que uma realizadora abre o Festival de Cannes. É um musical e um filme de muito, muito bem conseguido”, disse Thierry Frémaux, delegado geral do Festival, à imprensa.
A cerimónia de abertura, agendada para as 18h15, contará com a participação da cantora Mylène Farmer, fã de cinema e antiga membro do júri, que subirá ao palco para interpretar uma canção inédita.
De Niro, conhecido não só pela sua carreira mas também pela oposição declarada a Donald Trump, será distinguido com a Palma de Ouro Honorária aos 81 anos. O seu discurso deverá ser um dos momentos mais aguardados da noite, num contexto em que o mundo do cinema observa com preocupação a retórica protecionista do ex-presidente norte-americano, que anunciou recentemente – mas sem explicar como – a intenção de aplicar tarifas de 100% sobre filmes estrangeiros exibidos nos EUA
Num gesto simbólico, centenas de artistas assinaram uma carta publicada no Libération, denunciando o que classificam como “um genocídio em curso em Gaza”. “Nós, artistas culturais, não podemos ficar em silêncio enquanto o genocídio está a acontecer em Gaza”, declararam o realizador espanhol Pedro Almodóvar e os atores americanos Susan Sarandon e Richard Gere no diário francês Libération, na terça-feira. “Os 380 signatários do apelo, que incluem também a realizadora francesa Justin Triet e o ator britânico Ralph Fiennes, perguntam: “Qual é o sentido das nossas profissões se não estivermos lá para proteger as vozes dos oprimidos?
A guerra na Ucrânia também estará em destaque: três documentários serão exibidos no âmbito de um dia especial dedicado ao conflito, sublinhando o papel do cinema e do jornalismo em dar visibilidade a tragédias humanitárias.
Estrelas tentam esquecer as tarifas
Cannes, impulsionada pelo sucesso das suas longas-metragens nos Óscares do ano passado, atrai multidões de estrelas: de Tom Cruise a Nicole Kidman e Denzel Washington, sem esquecer Jennifer Lawrence e Robert Pattinson.
Juliette Binoche jantou pela primeira vez na segunda-feira à noite com os membros do seu júri, que inclui os atores Jeremy Strong e Halle Berry e a romancista Leïla Slimani. A 24 de maio, terão a difícil tarefa de escolher a Palma de Ouro entre os 22 filmes em competição.
Este ano, o realizador norte-americano Wes Anderson vai lançar o seu novo filme “The Phoenician Scheme”, que irá competir com filmes independentes como “Sentimental Value” de Joachim Trier e “Alpha” de Julia Ducournau.
Entre os filmes exibidos fora da competição estão o novo “Missão: Impossível – O Ajuste de Contas Final”, bem como “Highest 2 Lowest” de Spike Lee.
Cinema português e brasileiro em destaque na Croisette
Apesar da tensão internacional, o Festival de Cannes 2025 também abre espaço para a produção cinematográfica lusófona.
Portugal marca presença na competição oficial de curtas-metragens com dois filmes: “A Solidão dos Lagartos”, de Inês Nunes, e “Arguments in Favor of Love”, de Gabriel Abrantes, ambos a disputar a Palma de Ouro nesta categoria.
Na secção Un Certain Regard, o realizador Pedro Pinho regressa a Cannes com “O Riso e a Faca”, uma longa-metragem rodada em África, oito anos após ter apresentado “A Fábrica de Nada”. A obra acompanha a jornada de Sérgio, engenheiro ambiental português envolvido num projeto de construção de uma estrada entre o deserto e a selva.
Também em Un Certain Regard figura “Era uma vez em Gaza”, dos irmãos Arab e Tarzan Nasser, coproduzido pela portuguesa Ukbar Filmes.
Outros destaques incluem “O Pássaro de Dentro”, curta de animação de Laura Anahory (secção Cinef), “Entroncamento”, de Pedro Cabeleira (programa ACID Cannes), e a coprodução luso-filipina “Magalhães”, de Lav Diaz, protagonizada por Gael García Bernal no papel do navegador português Fernão de Magalhães.
Do lado brasileiro, “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho, está entre os 22 filmes a disputar a Palma de Ouro. O filme conta com Wagner Moura.
Além disso, o Brasil é o país convidado do Marché du Film, o mercado da indústria cinematográfia. Dois projetos com coprodução portuguesa serão apresentados: “Maria, a rainha louca”, de Elza Cataldo, protagonizado por Maria de Medeiros, e o filme de animação “Ana en Passant”, de Fernanda Salgado, com produção da Sardinha em Lata.