9 Mai 2018 19:15
O Festival de Cinema de Cannes vai poder exibir o filme "O Homem Que Matou Dom Quixote", de Terry Gilliam, a 19 de maio, por decisão judicial, revelou hoje a distribuidora Océan Films na rede social Twitter. "O Festival de Cannes quebrou o feitiço. "’O Homem Que Matou Dom Quixote’ entra na história do cinema", revela a distribuidora numa alusão aos problemas que marcaram a conclusão do projeto ao longo de 20 anos.
Momentos antes, o delegado-geral do festival, Thierry Frémaux, tinha confirmado que a decisão do tribunal de Paris tinha sido favorável à exibição do filme.
No entanto, de acordo com o Variety, o tribunal em Paris impõe que a sessão seja precedida por uma declaração a clarificar que "a exibição excepcional não prejudica a reivindicação de Branco sobre os direitos de ‘O Homem Que Matou Dom Quixote’, ou os procedimentos legais em andamento em redor do filme".
De acordo com a mesma notícia, o tribunal também ordenou que Gilliam, o agente de vendas Kinology e a Star Invest Films France paguem cada um 1.500 euros a Branco, como forma de custear parte das suas despesas legais.
Mesmo assim, o produtor Paulo Branco revelou hoje à Lusa que vai processar o Festival de Cinema de Cannes por eventuais danos causados pela projeção do filme no encerramento do evento.
Branco explicou que não vai recorrer da decisão do Tribunal de Paris, sobre a providência cautelar que tentou impedir a exibição do filme em Cannes, mas tenciona processar o festival pelos possíveis danos decorrentes da estreia marcada para o dia 19. "Serão analisados os danos causados por esta projeção e Cannes será responsável desses danos", disse o produtor português.
Paulo Branco tinha interposto uma ação num tribunal em Paris contra o Festival de Cinema de Cannes para impedir a exibição do filme no encerramento, em estreia mundial, a 19 de maio. A ação do produtor português acontece no seguimento de uma disputa por causa dos direitos do filme, rodado em Espanha e em Portugal com elenco internacional.
O projeto chegou a contar com produção de Branco, anunciada em 2016, mas Terry Gilliam acabou por não concretizar a parceria, alegadamente por problemas de financiamento. Gilliam pediu a anulação do contrato de produção com a produtora Alfama Films, mas o português alega que em 2017 o Tribunal de Grande Instância de Paris declarou que aquele continua válido.
Segundo Paulo Branco, a exploração e utilização das imagens do filme não pode existir sem o acordo prévio da Alfama Films.
"O Homem Que Matou Dom Quixote" é um projeto antigo de Terry Gilliam, que remonta a 1989 e cuja produção sofreu sucessivos solavancos e interrupções, com problemas com elenco e com financiamento, sendo descrito pela imprensa especializada como um filme amaldiçoado.
O mais recente episódio da história atribulada do filme será, segundo a publicação francesa Nice Matin, um acidente cardiovascular sofrido por Terry Gilliam no passado fim de semana em Londres, mas sem confirmação oficial.
Em Portugal, o filme não escapou à polémica, por causa de supostos estragos causados durante filmagens no Convento de Cristo e que levaram a Direção-Geral do Património Cultural a abrir um inquérito.
Independentemente da decisão de hoje sobre Cannes, está ainda em curso um processo judicial com decisão marcada para 15 de junho no Tribunal de Recurso em Paris, sobre a possível indemnização de Terry Gilliam ao produtor português, por causa de direitos sobre o filme.
"Continuo a ter os direitos sobre o filme e será difícil que a situação seja revertida. A decisão de 15 de junho, que foi comunicada, não resolve nada. Há ainda um processo no Reino Unido", disse Paulo Branco à agência Lusa em abril passado.
Certo é que os atuais produtores do filme mantêm os planos de distribuição internacional de "O homem que matou D. Quixote", nomeadamente em 300 salas em França e também na China.
Segundo a imprensa norte-americana, a Amazon Studios, que chegou a financiar o filme, recuou na intenção de fazer a estreia comercial nos Estados Unidos.
Em Portugal, onde a estreia deverá ser assegurada pela NOS, não há ainda data anunciada.
"O homem que matou D. Quixote" uma coprodução internacional entre vários países, nomeadamente Espanha, França e – em produção minoritária – Portugal, com um orçamento de cerca de 16 milhões de euros.
Esta adaptação livre de "D. Quixote", de Miguel Cervantes, cuja narrativa no filme oscila entre os séculos XVII e XXI, conta com interpretações de Jonathan Pryce, Adam Driver, Olga Kurilenko e a atriz portuguesa Joana Ribeiro, entre outros.
O 71.º Festival de Cinema de Cannes começou na terça-feira no sul de França.