17 Mai 2015 0:51
O mínimo que se pode dizer das fixações temáticas e estéticas de um cineasta como Todd Haynes é que existem marcadas (apetece dizer: assombradas) pelo cinema clássico de Hollywood. Mais precisamente: pelo melodrama tal como foi praticado pelo mestre Douglas Sirk (1897-1987). Títulos a ter em conta: "Longe do Paraíso" (2002), com Julianne Moore, e a série televisiva "Mildred Pierce" (2011), com Kate Winslet.
Presente na competição de Cannes com o sublime "Carol" — inspirado no romance "The Price of Salt" (1952), de Patricia Highsmith —, Haynes conta a história do amor de duas mulheres, vivido no começo da década de 1950, revalorizando, justamente, uma escrita melodramática que nunca desiste do mais vago ou misterioso sinal definidor da singularidade de uma personagem.
Há uma diferença de estatuto social que começa por contaminar a relação entre Therese e Carol: a primeira é uma empregada de balcão de um grande armazém; a segunda uma dama proveniente de outro universo que vê nela o seu "anjo". A aproximação das duas é vivida, não apenas como um gesto de natureza sexual, mas sobretudo como um movimento (sensual e intelectual) que as vai obrigar a reavaliar as suas identidades e as relações com os outros.
Enfim, mesmo que Haynes não fosse um encenador de infinitas minúcias, "Carol" seria sempre um objecto invulgar através das suas actrizes. Cate Blanchett, no papel de Carol, e Rooney Mara, como Therese, são prodigiosas de intensidade e depuração, em última análise expondo a tensão entre a verdade íntima de cada ser e a sua "funcionalidade" social — Haynes é, afinal, um cineasta das solidões e, por vezes, do seu encontro mágico.