Harrison Ford no labirinto de Polanski — o que é a realidade?

15 Jan 2018 14:24

Face ao mais recente filme de Roman Polanski, intitulado “A Partir de uma História Verdadeira”, compreendemos que uma linha de força fundamental do seu universo é a perda de identidade. Através de uma pergunta simultaneamente narrativa e filosófica: e se uma personagem se transformasse noutra personagem? Encontramos essa exploração do absurdo em vários momentos da sua filmografia, com destaque para uma produção de 1988 intitulada “Frantic” — entre nós, “Frenético”.

É uma história vivida em Paris. E parece começar como um melodrama mais ou menos risonho: um médico, acompanhado pela mulher, chega à capital francesa para participar numa congresso; no quarto do hotel, verificam que a sua mala foi trocada no aeroporto — o médico entra na casa de banho para se arranjar e, poucos minutos depois, a mulher desaparece…



Harrison Ford interpreta a personagem do médico — ele bem tenta convencer a polícia de que há indícios muito sérios de que a sua mulher foi raptada, mas não o tomam muito a sério; chegam mesmo a sugerir-lhe que ela talvez nunca tenha viajado com ele… No limite, “Frenético” é um filme sobre a desagregação da própria realidade — é precisamente essa sensação de fragilidade e vulnerabilidade que passa pela banda sonora original, composta pelo grande Ennio Morricone.

“Frenético” constitui um vertiginoso exemplo da sofisticação do olhar de Polanski e também, muito em particular, da sua capacidade de dirigir actores — além de Harrison Ford, por certo numa das suas mais ricas composições dramáticas, surge também Emmanuelle Seigner, mulher de Polanski, participando neste verdadeiro jogo do gato e do rato pelos cenários de Paris. Algumas das emoções do filme são filtradas pelos temas que integram a banda sonora, com inevitável destaque para “I’ve Seen That Face Before” — é uma canção de Grace Jones concebida a partir de uma recriação de um tango de Astor Piazzolla.


  • cinemaxeditor
  • 15 Jan 2018 14:24

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