5 Mai 2018 0:17
Com grande visibilidade nos Oscars referentes a 2017, o belo filme de Greta Gerwig, “Lady Bird”, protagonizado por Saoirse Ronan, pertence a uma muito respeitável árvore genealógica do cinema americano — é uma história marcada pelas atribulações da passagem da adolescência à idade adulta, num registo que tem tanto de exuberante como de intimista. Uma memória incontornável será, por isso, o lendário “Rebel Without a Cause”, com James Dean.
Por alguma razão, “Rebel Without a Cause” se chamou, entre nós, “Fúria de Viver”. Esta é, de facto, a história de um jovem cuja pulsão de vida expõe uma cruel clivagem entre as gerações, numa dinâmica em que ninguém parece possuir um sistema de valores capaz de reconhecer e integrar as diferenças dos outros — e convém não esquecer que o título original significa, à letra, “rebelde sem uma causa”. Nicholas Ray, o realizador, foi, afinal, o retratista de uma juventude à procura do seu lugar numa paisagem de crise aguda dos tradicionais valores familiares.
James Dean contracenava com Natalie Wood formando um dos mais belos pares do cinema clássico da década de 50. Ela tinha 17 anos, ele 24. O filme estreou-se em Outubro de 1955, mas James Dean já não o viu, uma vez que faleceu, cerca de um mês antes, num acidente de automóvel.
Para a história, e também para a mitologia cinéfila, “Fúria de Viver” ficou como um símbolo perene de vitalidade que, agora, ecoa num filme como “Lady Bird” — no limite, podemos dizer que a história de cada geração, mesmo através das suas componentes mais irredutíveis, reescreve as histórias das gerações que criaram o mundo em que nasceu.