22 Dez 2018 17:36
O lançamento do filme “Roma”, do cineasta mexicano Alfonso Cuarón, devolve-nos o poder primitivo da intimidade, a vibração de uma proximidade sensual com os corpos e os objectos. Dir-se-ia que Cuarón tem os pés bem assentes na terra — literalmente, simbolicamente. Mas não é bem assim: através de "Gravidade" (2013), a dimensão intimista do seu cinema já procurou paisagens bem diferentes.
A legenda inicial do filme avisa: “A 372 milhas acima da Terra, não há nada que transporte o som. Não há pressão atmosférica. Não há oxigénio — a vida no espaço é impossível.” Cuarón apostou numa ambiguidade inesperada e fascinante: fazer um “thriller” no espaço que fosse também uma viagem para além de todas as fronteiras do género humano.
“Gravidade” conta a história de um par insólito, romanesco, mas não exactamente romântico: ele é um astronauta veterano, ela uma engenheira encarregada de estudar uma possível evolução do telescópio Hubble. Confrontados com um grave acidente que danifica a estrutura da sua nave, vão viver uma experiência extrema, a meio caminho entre a arte da sobrevivência e o pressentimento da transcendência — ele é George Clooney, ela Sandra Bullock.
Na cerimónia dos Oscars referentes a 2013, “Gravidade” protagonizou uma proeza nada vulgar. Assim, “12 Anos Escravo” foi eleito melhor filme do ano, mas no total apenas obteve três estatuetas douradas. “Gravidade” conseguiu nada mais nada menos que sete Oscars, incuindo melhor realização, para Cuarón, e melhor fotografia, para Emmanuel Lubezki.