19 Ago 2018 13:57
O melhor filme de Cannes/2017 tinha assinatura de Haneke. Chama-se "Happy End" e chegou aos ecrãs portugueses com mais de um ano de atraso — mas chegou!… Apetece lembrar o mais simples: Haneke é um retratista das convulsões sociais e, em particular, das atribulações do universo familiar. Recordemos o exemplo perturbante, à beira do filme de terror, que é o seu “Brincadeiras Proibidas”, de 1997: ele é, afinal, um explorador das regiões mais enigmáticas do comportamento humano.
Isabelle Huppert e Benoît Magimel protagonizaram aquele que muitos consideram como um dos exemplos mais elaborados e mais radicais do cinema de Haneke: “A Pianista”, Grande Prémio do Júri de Cannes, em 2001, isto para além de Huppert e Magimel terem arrebatado os prémios de interpretação — através da música, “A Pianista” percorria as paisagens assombradas do amor e do desejo.
Michael Haneke é também um autor capaz de experimentar registos francamente inesperados, como aconteceu em 2003, com “O Tempo do Lobo”, uma parábola apocalíptica em tom (quase) de ficção científica. A sua projecção internacional tem passado, e muito, pelo Festival de Cannes — e já lá conseguiu duas Palmas de Ouro. A primeira, “O Laço Branco”, de 2009, projectava-nos na Alemanha rural do começo do século XX para nos contar uma história de medo, repressão e impossível redenção.
Três anos depois de “O Laço Branco”, portanto em 2012, Haneke regressou ao festival com o filme “Amor” — e voltou a ganhar. Era o retrato íntimo de um casal de octogenários, interpretados por Emmanuelle Riva e Jean-Louis Trintignant, uma contemplação fascinada e fascinante de um universo íntimo, fechado, mas com qualquer coisa de cósmico.