Ahmed Abdelhafiz e, ao fundo, Rady Gamal: drama e, por vezes, algum desconcertante humor

10 Mai 2018 1:23

Quando se diz que o Festival de Cannes mantém a identidade de grande montra global do cinema, expondo as suas muitas diferenças interiores (temáticas, de produção, etc.), é mesmo verdade. Observe-se, agora, o caso de "Yomeddine", primeira longa-metragem do egípcio A. B. Shawky que nos conta a saga de um homem de homem que sofreu de lepra, curou-se e quer reencontrar as suas origens familiares…

O menos que se pode dizer é que nunca seria fácil, muito menos automático, colocar em cena a aventura de Beshay (Rady Gamal) e Obama (Ahmed Abdelhafiz), este o rapaz órfão que acompanha Beshay na sua demanda — a sua viagem por cenários de muita pobreza, procurando a família de Beshay, é também uma visão on the road de quem procura esclarecer a sua própria história pessoal [clip do filme].



Convenhamos que o trabalho dramatúrgico de A. B. Shawky está longe de ser equilibrado: há sequências cuja duração (condensada ou dilatada) está longe de ser controlada, além de quem não beneficia o filme o facto de, por vezes, as personagens pararem par "dissertar" sobre o seu destino. O certo é que "Yomeddine" (palavra árabe que significa "dia do Julgamento Final") consegue essa proeza básica e contagiante de construir personagens tocantes, com emoções genuínas — por vezes, até, com algum desconcertante humor.

Rady Gamal, o intéprete de Beshay, é um homem que viveu uma adolescência dramática, já que vários diagnósticos erraram na detecção da sua condição de leproso; acabou por ser integrado na leprosaria de Abu Zaabal, conseguiu curar-se, tendo ficado com as cicatrizes da doença. Dir-se-ia que "Yomeddine" é também um documento sobre o seu actor e a singularidade do seu corpo — e essa é, sem dúvida a dimensão mais tocante do filme.

  • cinemaxeditor
  • 10 Mai 2018 1:23

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