Isto não é David Lynch
O realizador americano David Robert Mitchell surge na competição de Cannes com um filme que parece querer recuperar certos modelos "lynchianos": o certo é que "Under the Silver Lake" não passa de uma proposta formalista e pretensiosa.
Tempos houve em que se alguém se atrevia a falar de meta-linguagem, eventualmente referindo o modo como determinado filme sabia des-construir as regras de algumas matrizes clássicas, esse alguém corria o risco de ser acusado de perigoso "intelectual"… Não estou a caricaturar, muito menos a exagerar.
Agora, a "des-construção" é uma moda como qualquer outra e chegou mesmo a um estado de monótona repetição e esvaziamento. Veja-se o medíocre "Under the Silver Lake", do americano David Robert Mitchell (que se tornou conhecido, em 2014, através do filme de terror "Vai Seguir-te"): dir-se-ia que se trata de conseguir uma variação de "Mulholland Dr." (2001), de David Lynch, como se fazer à Lynch fosse acumular "violência" e "imagens bizarras"…
O ponto de partida parece apontar para um misto de desencantado romanesco e ritmo policial em cenários de Los Angeles: um jovem contemplativo e com muitas dívidas (Andrew Garfield) tenta reencontrar a "aparição" de uma mulher (Riley Keough) na piscina do seu prédio de apartamentos… Mas para fazer um filme é preciso um pouco mais do que tratar cada situação como se fosse uma obrigatória derivação onírica (?) da anterior.