15 Abr 2017 0:37
"Jackie", o filme de Pablo Larraín que valeu uma nomeação para o Oscar de melhor actriz a Natalie Portman, será tudo o que se quiser menos uma visão académica de Jacqueline Kennedy — é mesmo um retrato muito particular, e particularmente intenso, dos dias que se seguiram ao assassinato do marido, o Presidente John Fitzgerald Kennedy. Não há muitos filmes que tenham evocado esse contexto de forma tão subtil e complexa — inevitavelmente, lembramo-nos daquele cujo título reproduz as míticas iniciais do Presidente: "JFK".
Escusado será dizer que o realizador do filme, Oliver Stone, sempre foi um notável e muito crítico observador da história do seu país. Em qualquer caso, o centro do filme não é o próprio Presidente, mas sim o procurador Jim Garrison que tentou demonstrar que havia uma conspiração por detrás da morte de JFK.
No filme de Oliver Stone, o procurador Jim Garrison defende a defesa da verdade como princípio fundamental da justiça e da sociedade americana. As suas palavras são ditas, não apenas como uma argumentação específica no interior de um processo de investigação, mas também como uma celebração pedagógica dos valores fundadores da nação americana — Kevin Costner, no papel de Garrison, tem uma extraordinária interpretação, por certo das melhores da sua carreira.
Lançado em 1991, portanto há 26 anos, JFK já entrou na galeria dos clássicos em que, por assim dizer, a América se revê nas suas memórias — e também nos seus assombramentos. É um filme cuja actualidade política e energia simbólica só podem ser reforçadas pelos tempos que estamos a viver.