27 Out 2019 1:02
A notícia está no "Variety", a "bíblia" da indústria cinematográfica americana: "Joker", o filme de Todd Philllips com Joaquin Phoenix, acaba de bater o recorde absoluto internacional na categoria de filmes com a classificação etária "R" no EUA.
Assim, a receita global de "Joker" atingiu 788,1 milhões de dólares (711 milhões de euros), ultrapassando os números de "Deadpool 2", uma estreia de 2018 que chegou aos 785 milhões.
É importante sublinhar que a classificação "R" (ou outras equivalentes) funciona, necessariamente, como um factor de restrição das audiências potenciais. Isto porque um filme com essa classificação não será visto por sectores quantitaviamente decisivos em qualquer contabilidade cinematográfica como as crianças e a maior parte dos adolescentes.
Concretamente, nos EUA, "R" (Restricted) significa: "Os menores de 17 anos terão de ser acompanhados por um familiar ou adulto responsável. Contém algum material adulto. Aconselha-se vivamente os familiares a informarem-se mais sobre o filme antes se fazerem acompanhar por crianças."
Não será preciso sublinhar que esta notícia não envolve qualquer tipo de valorização (ou desvalorização…) de "Joker" por causa das suas receitas. Do meu ponto de vista, trata-se de um prodigioso objecto de cinema que continuaria a sê-lo em qualquer circunstância conjuntural, mesmo se tivesse zero de receitas.
A questão é outra. E de outra natureza. O que, a propósito, está em causa é o facto de muitas formas de celebração (?) de receitas astronómicas de alguns filmes (de super-heróis e, muito em particular, na imprensa dos EUA) envolverem uma simplificação abusiva do contexto económico e financeiro em que tudo acontece.
Assim, estes números de "Joker" podem (e, a meu ver, devem) ser colocados a par dos custos da feitura do próprio filme, ou seja, segundo o "Variety", 62,5 milhões de dólares. Quer isto dizer que as suas actuais receitas multiplicam por 12,6 o orçamento de produção, ratio raríssimo em qualquer tipo de filme.
Por exemplo, entre os títulos mais rentáveis de 2018 com um rendimento global próximo de "Joker" surge "Missão Impossível: Fallout": acumulou 791 milhões de dólares, mas resultou de um investimento de 178 milhões, o que quer dizer que multiplicou esse valor "apenas" 4,4 vezes (sem esquecer que teve a classicação "PG-13", permitindo o acesso de menores de 13 anos, desde que acompanhados por um adulto).
Noutro patamar de produção, "Green Book" (também "PG-13") acumulou globalmente "apenas" 322 milhões de dólares, mas custou 23 milhões. Ou seja: as receitas multiplicaram 14 vezes o investimento inicial.
São números, enfim, que levam o "Variety" a concluir com a formulação de uma hipótese: tendo em conta, precisamente, a necessidade de analisar os valores relativos da economia global do cinema, "Joker" está a tornar-se "um dos filmes de super-heróis mais rentáveis de sempre."