Saltar para o conteúdo principal

Os primeiros passos da atriz americana Kristen Stewart como realizadora dão-se com um filme sobre a “experiência muito violenta” de ser mulher.

Estrela da saga Twilight transformada em figura do cinema independente, Stewart lutou durante oito anos para conseguir realizar esta longa-metragem com base nas memórias da nadadora americana Lidia Yuknavitch, que conta como sobreviveu a abusos sofridos em criança.

“Nunca tinha lido um livro como este, que grita (a necessidade) de ser um filme, (…) uma coisa viva”, disse Kristen Stewart à AFP no sábado, um dia depois de “The Chronology of Water” ter sido apresentado na secção Un Certain Regard.

O facto de Lidia Yuknavitch ser “capaz de pegar em coisas muito feias, processá-las e produzir algo com que se pode viver, algo que tem realmente alegria” é inspirador, acrescentou.

“Ser mulher é uma experiência muito violenta mesmo que não se passe pelo tipo de experiência extrema que descrevemos no filme, ou que a Lidia suportou e superou de forma magnífica”, observa ainda Kristen Stewart, que também escreveu o argumento.

A atriz e agora realizadora, insiste que não há paralelismos autobiográficos que a tenham atraído para o livro.

No entanto, “não precisou de fazer muita pesquisa” para este filme. “Sou um corpo feminino que anda por aí há 35 anos. Vejam o mundo em que vivemos”, diz ela.

A atriz britânica Imogen Poots – “a melhor da nossa geração”, segundo a realizadora – interpreta o papel principal. “Ela é tão luxuriante, tão bonita e deu-se tanto neste filme”, diz.

Para Kristen Stewart, a energia febril de “The Chronology of Water” é “um músculo cor-de-rosa pulsante” do qual Imogen Poots se serviu para trazer para o ecrã a batalha feroz, mas muitas vezes caótica, de Yuknavitch para se reconstruir e encontrar prazer e felicidade.

O cineasta também escolheu Earl, filho do cantor Nick Cave, para o papel do primeiro marido da nadadora e Kim Gordon, da banda de rock Sonic Youth, para o papel do seu companheiro dominador.

O livro de Lidia Yuknavitch “medita, de certa forma, sobre o que a arte pode fazer por nós depois de as pessoas nos terem feito coisas ao corpo – violação e roubo, o arrancamento do desejo. É uma experiência muito feminina”, conclui.

“Só as histórias que contamos a nós próprios nos mantêm vivos”, acrescenta Kristen Stewart, e Lidia Yuknavitch descobriu que a única forma de reclamar o seu desejo era “personalizá-lo… e redistribuir as coisas que nos foram dadas para que as possamos possuir”.

“Não estou a ser dramática, mas, enquanto mulheres, somos segredos ambulantes”, conclui a realizadora, que está “ansiosa por fazer mais dez filmes”.

  • AFP
  • 21 Mai 2025 18:53

+ conteúdos