5 Nov 2015 23:14
* LEFFEST — sexta-feira, 6 Novembro
É bem verdade que, mal ou bem, a noção de autor há muito se tornou um vector fundamental da percepção (artística e teórica) do mundo do cinema. Mas até que ponto os autores contemporâneos ainda existem num universo mediático povoado de "famosos" de telenovelas, concursos e programas de "reality TV"?…
Digamos que a nona edição do Lisbon & Estoril Film Festival — a decorrer de 6 a 15 de Novembro — se fará, antes de tudo o mais, da celebração dos autores e das suas singularidades. E tanto mais quanto, em alguns casos, a noção de obra será decisiva nas opções da programação — por exemplo, através da restrospectiva de Jonathan Demme, que estará entre nós para apresentar e comentar vários dos seus trabalhos.
O dia de abertura faz-se sob o signo de dois cineastas, cada um deles um símbolo exemplar da respectiva área de produção. O primeiro, David Gordon Green, tornou-se um modelo da evolução da chamada área independente do cinema made in USA, através de títulos como "Prince Avalanche" ou "Joe" (ambos de 2013) — surge no certame para apresentar "Profissionais da Crise", com Sandra Bullock, Billy Bob Thornton e Joaquim de Almeida (o actor português estará também presente).
O segundo cineasta é o veterano italiano Nanni Moretti, com um nicho de público fiel no nosso país, desde os tempos heróicos de "Sonhos de Ouro" (1981) ou "A Missa Acabou" (1985). Vem apresentar "Minha Mãe", filme que protagoniza, contracenando com Margherita Buy e John Turturro, e cuja estreia mundial ocorreu em Cannes (chegará no dia 26 de Novembro às salas portuguesas).
"Minha Mãe" é a prova muito real de que é possível (continuar a) fazer um cinema sem complexos de trabalhar uma dimensão classicamente psicológica, sempre apoiada numa cuidada gestão do trabalho dos actores. O retrato de dois irmãos (Moretti + Buy) que tentam lidar com o fim iminente da sua mãe é, em última instância, uma belíssima crónica de uma intimidade ferida.