1 Mai 2015 14:28
A estreia de filmes como "Phoenix" (Christian Petzold) e "Labirinto de Mentiras" (Giulio Ricciarelli) permite-nos perceber que o cinema das mais diversas origens continua a revisitar os dramas da Segunda Guerra Mundial, procurando ver e compreender para lá dos clichés dramáticos ou políticos. Nesse aspecto, um dos títulos mais fascinantes — e mais esquecidos — será "Mr. Klein", uma produção de 1976 com assinatura do também pouco citado Joseph Losey.
É um filme construído a partir de um perturbante equívoco. No seu centro está um cidadão de nome Robert Klein que, durante a ocupação de Paris pelos nazis, recebe em sua casa um jornal intitulado “As Informações Judaicas”, sem saber porque é que isso acontece — ao tentar desvendar a utilização do seu endereço por alguém que desconhece, vai deparar com um mundo de repressão que, afinal, ignorava e onde, tragicamente, todas as aparências iludem.
Produzido em França, "Mr. Klein" é um exemplo extraordinário do labor de um cineasta americano, Joseph Losey, profundamente ligado à Europa. De facto, quando das purgas do período maccartista, Losey exilou-se na Grã-Bretanha, acabando por rodar aí e em França uma parte significativa da sua obra, incluindo títulos tão marcantes como "O Criado" (1973) e "O Mensageiro" (1971).
Além do mais, convém sublinhar que este é um filme com um elenco notável, incluindo Jeanne Moreau, Juliet Berto, Michel Lonsdale e, na personagem de Klein, Alain Delon. esta é, aliás, uma uma das maiores proezas da filmografia de Alain Delon, também o produtor do filme — da sua aliança com Joseph Losey nasceu, afinal, uma história exemplar sobre as memórias trágicas do Holocausto.