24 Mai 2017 0:10
Se é verdade que há cineastas cuja carreira foi "construída" por Cannes, então não há dúvida que a japonesa Naomi Kawase pode ser um bom exemplo. Em 1997, com "Susaku", ganhou a Câmara de Ouro (melhor primeira obra); agora, está pela sétima vez na Côte d’Azur para apresentar "Hikari" ("Vers la Lumière" segundo o título francês; "Radiance" na versão inglesa).
Infelizmente, não há muito a dizer da nova proposta de Kawase, muito longe da elegância melodramática do seu título anterior, "Uma Pastelaria em Tóquio" (2015), ou do estranho suspense de "A Quietude da Água" (2014).
Convenhamos que o ponto de partida é sugestivo: trata-se de encenar a aproximação emocional de uma jovem especialista em escrever versões de filmes para invisuais (Mysaki Ayame) e um fotógrafo que, a pouco e pouco, está a perder a visão (Nagase Masatoshi) — são as suas fotografias que vão criar um elo muito particular entre ambos.
Kawase filma tudo isso com uma pompa new age, tão requentada quanto postiça, em que a eventual cumplicidade entre os protagonistas parece existir apenas em função de uma avalancha de imagens de pôr do sol e outras derivações banalmente "poéticas". Face a alguns filmes excepcionais noutras secções — lembro apenas "L’Atelier", de Laurent Cantet (Un Certain Regard) —, não se percebe muito bem o que este"Hikari" está a fazer na competição oficial…