16 Abr 2016 15:00
Entre os cineastas americanos contemporâneos, Terrence Malick é um dos mais lendários e também mais misteriosos. Como prova o seu "Cavaleiro de Copas", os enigmas dos destinos humanos constituem a sua matéria de eleição. Vale a pena, por isso, recuarmos ao ponto em que tudo começou, quer dizer, à primeira longa-metragem de Malick, "Noivos Sangrentos".
A canção "Migration", de James Taylor, servia de pano de fundo à odisseia de um rapaz e uma rapariga que, em meados da década de 1950, numa cidadezinha do Dakota do Sul, vão acumulando uma série de crimes que os transformam numa espécie de reencarnação da tragédia de Bonnie e Clyde — é a história de um sonho romântico que se transforma na saga de um pesadelo social.
A revelação do filme era Sissy Spacek, jovem actriz quase desconhecida que tinha participado em algumas produções para televisão. Ela e Martin Sheen são Holly e Kit, o par que protagoniza uma trajectória de descoberta e revelação que vai deslizando para as zonas mais obscuras da tragédia — estava-se em 1973 e, de facto, os heróis puros, à maneira clássica, já não existiam.
Na banda sonora, com um misto de ironia e desencanto, Nat King Cole era uma das vozes a servir de enquadramento às aventuras destes noivos sangrentos (título original: "Badlands"). O filme, mesmo sem ter sido um grande sucesso, rapidamente se transformou numa referência de culto. E hoje compreendemos que há uma lógica criativa que provém da agitação dos anos 70 para desembocar, agora, em "Cavaleiro de Copas".