03 Set 2023
“The Palace”, o mais recente filme de Roman Polanski, foi exibido sábado no Festival de Cinema de Veneza, fora de competição. O produtor italiano Luca Barbareschi ergueu a bandeira da “liberdade” artística e lamentou o facto de ninguém querer os direitos de distribuição do filme nos Estados Unidos, na Grã-Bretanha e em França, afirmando que a moralidade não deve pesar sobre a arte.
Filmado em Gstaad, na Suíça, é uma comédia ambientada num hotel de luxo na véspera do Ano Novo de 2000. No elenco estão Mickey Rourke, John Cleese, Oliver Masucci, Fanny Ardant e Joaquim de Almeida.
Crítica aos excessos, exibe uma galeria de personagens escandalosas: oligarcas russos, bilionários insuportáveis, uma cliente ninfomaníaca e um canalizador lascivo. Para não falar de um cão que acaba por acasalar com um pinguim.
Distante dos grandes filmes de Polanski, autor de “O Pianista”, sobre a Shoah, ou do clássico de terror “A Semente do Diabo”, esta comédia com um orçamento de 21 milhões de euros foi recebida com frieza na sessão de imprensa.
Embora o cineasta não tenha viajado até Veneza, esta exibição num dos mais antigos e prestigiados festivais do mundo assumiu uma forte dimensão.
Aos 90 anos, tornou-se um símbolo da impunidade dos autores de violência sexual e um dos cineastas mais contestados da era #MeToo. Vive na Europa ao abrigo da justiça americana, da qual foge há mais de 40 anos, após ter sido condenado por relações sexuais ilegais com uma menor.
Persona non grata em Hollywood, a situação de Polanski, que tem dupla nacionalidade franco-polaca, piorou em França desde a polémica em torno do prémio de melhor realização recebido nos César em 2020 por “Oficial e Espião”, quando foi alvo de novas acusações de agressão sexual nunca levadas a tribunal.
A sua seleção para Veneza, com a de outro pária de Hollywood, Woody Allen, e a de Luc Besson (contra quem as acusações de violação acabam de ser definitivamente rejeitadas pelos tribunais), foi vista por alguns como uma provocação.