O 76º Festival de Cannes: renovação e grandes autores

O 76º Festival de Cinema de Cannes anunciou hoje a selecção oficial, cinco semanas antes do início da corrida à Palma de Ouro, de 16 a 27 de maio.

Por agora, estão 19 filmes na competição que escolherá o sucessor de "Triângulo da Tristeza", mas há fortes hipótese de que a lista ainda possa crescer. O vencedor do ano passado, terá o seu realizador, o sueco Ruben Östlund, como presidente do júri.

Um dos títulos que ainda pode juntar-se à corrida é "Killers of the Flower Moon", de Martin Scorsese, vencedor da Palma de Ouro em 1976 com "Taxi Driver". O filme com Leonardo DiCaprio e Robert De Niro está programado fora de competição. "O pedido foi feito", disse Thierry Frémaux, Delegado Geral do Festival de Cannes. Cabe aos produtores, Apple TV e Paramount, decidir.

O festival terá um forte sabor norte-americano com "May/December" de Todd Haynes (realizador de "I’m not There" sobre Bob Dylan) e "Asteroyd City" de Wes Anderson.

Fora de competição, Johnny Depp estará no centro das atenções. A sessão de abertura, a 16 de Maio ficará a cargo de "Jeanne Du Barry" de Maïwenn, e marca o regresso do ator ao ecrã após a batalha legal com a sua ex-mulher Amber Heard. A filha de Depp, Lily-Rose Depp, também estará presente, ao lado da estrela pop The Weeknd em "The Idol".

Estas estrelas somam-se às já anunciadas, começando por Harrison Ford, que apresenta o novo "Indiana Jones", ou Ethan Hawke e Pedro Pascal, os protagonistas de uma curta-metragem de Pedro Almodóvar.

Com uma nova presidente em funções, Iris Knobloch, que fez carreira como executiva da Warner Bros. na Europa, Cannes prova que pretende disputar o espaço do Festival de Cinema de Veneza como plataforma de lançamento para Hollywood.

Knobloch é a primeira mulher a presidir ao festival que, este ano, envia um sinal de progresso no longo caminho para a paridade.

Thierry Frémaux destacou o "número sem precedentes" de mulheres realizadoras a competir pela Palma de Ouro, que só foi ganha duas vezes pelas mulheres: haverá seis mulheres na corrida, em comparação com cinco no ano passado.

Entre elas, a presença de Alice Rohrwacher testemunha a vitalidade renovada do cinema italiano, que conta com três realizadoras na competição, juntamente com Marco Bellochio e Nanni Moretti. A competição vê também o regresso ao cinema de Catherine Breillat, dez anos após o seu último filme "Abus de faiblesse".

A chegada à competição de uma primeira obra, realizada pelo senegalês Ramata-Toulaye Sy, ou a presença do tunisino Kaouther Ben Hania, é também um sinal do desejo de dar ao cinema africano um lugar mais importante.

Os grandes nomes do cinema, regulares na Croisette, não foram esquecidos: o japonês Hirokazu Kore-eda, o alemão Wim Wenders, com dois filmes, um dos quais em competição, o veterano britânico Ken Loach, que ganhou o festival em duas ocasiões, e o japonês Takeshi Kitano, que apresenta uma "comédia histórica de samurais" fora de competição, estão de regresso.

Club Zero (Jessica Hausner)

A cineasta austríaca, que fez nome em 2019 com "Little Joe", vencedor de um prémio de interpretação para a actriz Emily Beecham, regressa com a atenção focada na juventude. Mia Wasikowska interpreta uma professora numa escola preparatória chique que forma uma forte ligação com cinco dos seus alunos.

The Zone of Interest (Jonathan Glazer)

Baseado num livro do autor britânico Martin Amis, o realizador de "Debaixo da Pele" entra na competição com uma história ambientada em Auschwitz. Trata-se de um oficial nazi que se apaixona pela mulher do comandante do campo de extermínio.

Fallen Leaves (Aki Kaurismäki)

O realizador finlandês de "O Homem Sem Passado" (Grande Prémio na edição 2002 em Cannes), "O Outro Lado da Esperança" ou "Le Havre", mestre da melancolia, regressa com o seu 19º filme, mais um capítulo na anterior trilogia do proletariado sobre duas pessoas que sobrevivem na margem errada do Estado Previdência.

Les filles d’Olfa (Kaouther Ben Hania)

A realizadora tunisina entra na competição com um filme "no limite do ensaio", segundo o delegado geral do Festival, Thierry Frémaux, e que traz a reintepretação da história de uma mãe que perdeu duas filhas para o Estado Islâmico. Em 2017, o seu filme "The Beast and the Pack", sobre a violência contra as mulheres, foi apresentado na secção "Un Certain Regard".

Asteroid City (Wes Anderson)

Dois anos após "Crónicas de França", o realizador americano reúne Adrien Brody, Jason Schwartzman, Tilda Swinton, Margot Robbie e Tom Hanks numa cidade americana fictícia que reúne pais e estudantes para competições académicas.

Anatomy of a Fall (Justine Triet)

Após "Sibyl" em 2019, a realizadora francesa Justine Triet está de volta à competição. A sua quarta longa-metragem conta a história de uma mulher acusada de assassinar o marido, com a alemã Sandra Hüller, que conquistou a Croisette, em 2016, com o papel principal de "Toni Erdmann".

Monster (Hirokazu Kore-eda)

Regresso ao Japão de um cineasta premiado com Palma de Ouro em 2018 ("Shoplifters"), após incursões pela França e Coreia. "Broker – Intermediários", esteve em competição no ano passado e recebeu o prémio de melhor ator). Desta vez, o realizador propõe a análise a uma briga trivial numa escola.

Il sol dell’avvenire (Nanni Moretti)

Rodado nos estúdios Cinecitta em Roma, a nova obra do italiano, depois de "Três Pisos", promete ser sobre "cinema, o circo e os anos 50". Com a sua actriz favorita, Margherita Buy, e o francês Mathieu Amalric.

La chimera (Alice Rohrwacher)

A realizadora italiana, uma habitual no concurso, regressa com "La Chimera", que apresenta um Josh O’Connor quase irreconhecível como jovem arqueólogo misturado com um grupo de ladrões de sepulturas na Itália dos anos 80.

About Dry Grasses (Nuri Bilge Ceylan)

O cineasta turco, que ganhou a Palma de Ouro em 2014 com "Sono de Inverno", regressa à Croisette com outro drama ambientado na Anatólia, no centro do qual um professor se vê confrontado com acusações de assédio.

L’été dernier (Catherine Breillat)

Dez anos após o seu último filme "Abuso de Fraqueza", e graves problemas de saúde, a realizadora observa uma mãe cuja vida é virada do avesso por um caso com o seu genro.

La passion de Dodin Bouffant (Tran Anh Hung)

Francês de origem vietnamita que assinou "O Odor da Papaia Verde" nos anos 90, Tran Anh Hung adapta um romance sobre gastronomia, com Juliette Binoche e Benoit Magimel.

Rapito (Marco Bellocchio)

Será o ano da Palma de Ouro para o consagrado italiano? O realizador de "O Traidor" nunca venceu em Cannes, apesar de os seus filmes serem regularmente seleccionados em competição. Aos 83 anos, "Rapito" conta a verdadeira história de Edgardo Mortora, uma criança judia de seis anos raptada pela Igreja Católica e convertida pela força no século XIX.

May / December (Todd Haynes)

O americano reúne-se com uma das suas actrizes favoritas, Julianne Moore ("Longe do Céu"), e alista Natalie Portman para um drama sobre um casal com uma diferença de idade significativa.

Firebrand (Karim Aïnouz)

O realizador brasileiro de "A Vida Invísivel" / The Invisible Life of Eurídice Gusmão", pelo qual ganhou o prémio "Un Certain Regard", em 2019, está de volta a Cannes, depois de "Sailor of the Mountains", um filme documental sobre a sua descoberta da Argélia (o país do seu pai). Na sua primeira produção em língua inglesa, Aïnouz recria os acontecimentos em torno do casamento do rei Henrique VIII de Inglaterra com a última das suas seis mulheres, Katherine Parr.

The Old Oak (Ken Loach)

"Tens a certeza?" perguntou o veterano britânico de 86 anos quando lhe falaram da sua nova presença na competição em Cannes com um drama social e realista, o seu género preferido. Filmado no nordeste de Inglaterra, o filme narra a história do encontro entre o dono de um pub e um refugiado sírio.

Banel et Adama (Ramata-Toulaye Sy)

A jovem realizadora senegalesa Ramata-Toulaye Sy entrou directamente para a competição principal com este primeiro filme, uma história de amor numa aldeia remota do seu país.

Perfect Days (Wim Wenders)

Também presente fora de competição com um documentário sobre o artista Anselm Kiefer, Wim Wenders ("Nas Asas do Desejo", "Paris, Texas", "Buena Vista Social Club") promete surpreender com um filme sobre "os sanitários públicos japoneses".

Jeunesse (Wang Bing)

O grande documentarista chinês, acostumado a fazer filmes de grande alcance sobre os desfavorecidos do seu país, está duplamente presente na selecção de Cannes (em competição e numa sessão especial com "Homem de Preto"). Em "Jeuness" lança a sua câmera sobre os jovens da província de Yunnan que migram para trabalhar nas fábricas de Xangai.

CANNES PREMIERE

Le Temps d’Aimer (Katell Quillévéré)
To Close One’s Eyes (Victor Erice)
Bonnard, Pierre et Marthe (Martin Provost)
Kubi (Takeshi Kitano)

FORA DE COMPETIÇÃO

The Idol (Sam Levinson)
Cobweb (Kim Jee-woon)
Indiana Jones e o Marcador do Destino (James Mangold)
Jeanne du Barry (Maïwenn)

UN CERTAIN REGARD

How to Have Sex (Molly Manning Walker)
Goodbye Julia (Mohamed Kordofani)
A Flor do Buruti (João Salaviza e Renée Nader Messora)
The Nature of Love (Monia Chokri)
The Mother of All Lies (Asmae El Moudir)
The Settlers (Felipe Gálvez)
Omen (Baloji Tshiani)
The Breaking Ice (Anthony Chen)
Rosalie (Stéphanie Di Giusto)
The New Boy (Warwick Thornton)
If Only I Could Hibernate (Zoljargal Purevdash)
Hopeless (Kim Chang-hoon)
Terrestrial Verses (Ali Asgari and Alireza Khatami)
Rien à Perdre (Delphine Deloget)
Les Meutes (Kamal Lazraq)
Le règne animal (Thomas Cailley)

SESSÕES ESPECIAIS

Anselm (Wim Wenders)
Occupied City (Steve McQueen)
Man in Black (Wang Bing)

SESSÕES DA MEIA NOITE

Kennedy (Anurag Kashyap)
Acide (Just Philippot)

• CINEMAX - RTP com agências

• 13 Abr 2023 16:14